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O que é mais perigoso: uma horda de zumbis furiosos ou uma casa cheia de soldados americanos desesperados? Em 28 Days Later, Danny Boyle não tem dúvidas — o maior monstro continua sendo o próprio ser humano.

O filme parte de uma premissa simples, quase clássica no cinema de horror: um vírus altamente contagioso, conhecido como Rage, escapa de um laboratório e transforma as pessoas em criaturas violentas, com olhos injetados de sangue e força sobre-humana. Mas diferente de tantos filmes de zumbi que se contentam com o espetáculo gore, Boyle mira algo mais profundo e desconfortável — a desintegração da moral e da civilização diante do caos.

Cillian Murphy, em um de seus primeiros grandes papéis no cinema, interpreta Jim, um entregador de bicicleta que acorda de um coma em um hospital abandonado de Londres. Seu arco é fascinante: do homem frágil e confuso, ele evolui para um verdadeiro sobrevivente — frio, feroz, quase uma figura mítica. No terceiro ato, sua presença é tão intensa e calculada que lembra até um Batman em sua versão mais crua e improvisada.

Ao lado dele, o elenco coadjuvante brilha: Naomie Harris dá vida à destemida Selena, que equilibra força e vulnerabilidade de forma magnética; Megan Burns é comovente como Hannah, cuja inocência resiste mesmo em meio ao inferno; e Brendan Gleeson, como o carismático Frank, entrega um dos personagens mais humanos e cativantes do filme. E vale dizer — este talvez seja o táxi mais duradouro e icônico da história do cinema.

A grande virada do longa ocorre quando Jim e companhia se deparam com um grupo de soldados americanos que oferecem abrigo, mas escondem intenções repulsivas. É aí que 28 Days Later se afasta de vez do terror convencional: os zumbis são rápidos, assustadores, mas previsíveis. Já os humanos são o verdadeiro pesadelo — capazes de crueldades ainda mais profundas e conscientes. Boyle constrói essa tensão com precisão, criando uma atmosfera sufocante onde a brutalidade militar supera em horror qualquer horda de infectados.

Com estética granulada, fotografia digital crua e uma trilha sonora pulsante, o filme tem seus momentos de puro terror, mas também momentos de contemplação e desespero silencioso. Não é perfeito — há ritmo irregular em alguns pontos e o final pode parecer apressado —, mas é um exemplar marcante do gênero.

28 Days Later é mais do que um filme de zumbis. É um estudo sobre a selvageria latente no ser humano. E nesse retrato sombrio do colapso social, os infectados com rage são apenas o começo do problema.

Eu sou literalmente ele.

Drive, dirigido por Nicolas Winding Refn, é mais que um filme de ação ou um thriller moderno — é uma experiência sensorial, um poema visual embebido em neon, silêncio e violência. Refn constrói o longa com um domínio técnico impressionante, quase cirúrgico, em que cada plano parece milimetricamente composto para nos hipnotizar. A fotografia belíssima de Newton Thomas Sigel transforma Los Angeles numa cidade sonhadora, solitária, onde o brilho das luzes e o asfalto molhado dizem tanto quanto os personagens.

As cenas de perseguição são eletrizantes, mas não exageradas; elas fluem com tensão e elegância. E há algo mágico apenas em ver Ryan Gosling dirigindo pelas ruas, com a trilha sonora pulsando ao fundo. O uso da luz no filme é um espetáculo à parte: sombras, brilhos, reflexos — tudo conversa com a emoção contida que permeia o filme. Refn usa a iluminação como um pincel de estados de espírito, e isso torna Drive visualmente inesquecível.

A trama é simples, quase minimalista: um motorista habilidoso, duplo entre dublê e criminoso, se envolve com sua vizinha e acaba mergulhado num turbilhão de violência. Mas é justamente na simplicidade que reside o impacto. Ryan Gosling entrega uma atuação brilhante na contenção: ele quase não fala, raramente sorri, e mesmo assim sustenta o filme inteiro nos ombros. Sua presença em cena é magnética. Seu personagem é enigmático, quase mitológico — o silêncio dele diz mais que mil diálogos mal escritos.

E aí, tem Irene. Ah, Irene. A relação entre os dois é de uma beleza sutil e devastadora. Carey Mulligan está absolutamente encantadora nesse filme — comovente em sua fragilidade, misteriosa em sua gentileza. A conexão que nasce entre os dois é construída em pequenos gestos: um olhar, um sorriso, uma carona. A sequência do eio com Benicio tem uma leveza tão pura que contrasta perfeitamente com o submundo que se aproxima. E então, claro, a cena do elevador. Aquilo é cinema em sua forma mais crua e poderosa: o beijo banhado em uma luz etérea, a pausa no tempo, a ternura. Um segundo depois, a brutalidade. Amor e terror. É magistral.

A trilha sonora de Drive é quase um personagem à parte. O synth-pop oitentista cria uma atmosfera entre o nostálgico e o futurista, e canções como "Nightcall" e "A Real Hero" não só embalam cenas marcantes como grudam na memória. Eu levei essas músicas pra vida. Elas são *Drive*, tanto quanto os silêncios de Gosling ou o brilho das luzes da cidade.

E há também a fábula do escorpião e do sapo. O motorista é o escorpião: predestinado à destruição, mesmo quando tenta amar. A jaqueta com o escorpião dourado é seu símbolo trágico, sua identidade marcada — como se ele já soubesse que, no fundo, não pode escapar da própria natureza.

Drive é uma obra estilizada, elegante, brutal e delicada ao mesmo tempo. Um conto moderno com alma de balada triste. Refn entrega um filme que pulsa beleza e perigo em igual medida. E eu me vi demais ali — na solidão silenciosa, na ternura contida, na música que toca no carro enquanto se acelera para longe de tudo.

Priscilla, dirigido por Sofia Coppola, é um retrato íntimo e doloroso da vida de Priscilla Presley, especialmente de sua juventude ao lado de Elvis Presley. Um dos maiores trunfos do filme é a atuação deslumbrante de Cailee Spaeny, que dá vida a Priscilla com uma delicadeza e intensidade comoventes. Spaeny me encantou do começo ao fim — ela transmite com os olhos e com o corpo toda a transformação dessa jovem que, aos poucos, vai se apagando em uma relação sufocante. É uma performance silenciosa, mas poderosa, que carrega o filme nas costas.

Sofia Coppola, fiel ao seu estilo contemplativo e atmosférico, constrói com cuidado o início dessa história. Gosto muito do ritmo e das cenas do começo — tudo é envolvente, melancólico, cheio de sensibilidade. A forma como Sofia retrata o início do relacionamento entre Priscilla e Elvis é, ao mesmo tempo, sutil e perturbadora: ela tinha apenas 14 anos, ainda uma criança, enquanto ele já era um astro mundial. Coppola não sensacionaliza, mas deixa claro desde cedo que há algo profundamente errado naquela dinâmica.

A forma como o Elvis é retratado — manipulador, controlador, agressivo — é outro mérito do filme. Ele decide tudo na vida de Priscilla: o que ela veste, como usa o cabelo, como se comporta. E mesmo com tanto controle, a trai repetidamente. Sofia mostra com precisão como Priscilla vai se apagando dentro da relação, como o Elvis suga sua essência, até que ela mal consegue se reconhecer.

No entanto, o filme perde força a partir da metade. O ritmo, que funcionava bem no início, começa a se arrastar. Alguns takes são longos demais, e certas agens — como a sequência em que Elvis prega — são excessivamente artificiais e sem resolução convincente. Essas escolhas acabam quebrando o envolvimento emocional que o início construiu com tanto cuidado.

O final também me pareceu apressado. Faltou um clímax à altura da trajetória dolorosa de Priscilla. A separação, que deveria ser libertadora e impactante, não entrega o peso emocional esperado.

Mesmo com esses tropeços, Priscilla é um filme relevante e necessário, especialmente por dar voz à perspectiva de uma mulher que, por muito tempo, foi apenas um apêndice na história de um ícone. Cailee Spaeny brilha intensamente e Sofia Coppola, mesmo com alguns deslizes, entrega um retrato honesto e sensível de uma relação marcada por poder, silêncio e apagamento.

Apesar de reconhecer a importância histórica e cinematográfica de The Rules of the Game, de Jean Renoir, não consegui me conectar emocionalmente com a história apresentada. O filme tem seus méritos, especialmente na forma como retrata a decadente elite sa às vésperas da Segunda Guerra Mundial, mas alguns elementos me afastaram mais do que me envolveram.

A personagem Christine, por exemplo, foi especialmente difícil de engolir. Sua constante indecisão emocional e o hábito de dizer "eu te amo" para diferentes homens ao longo do filme tornaram sua figura inconsistente e pouco cativante. Faltou profundidade ou coerência emocional que a tornasse mais humana ou compreensível — em vez disso, ela parece flutuar superficialmente entre os interesses amorosos, sem muita consequência.

Por outro lado, a personagem Lisette foi, de longe, a mais interessante para mim. Há algo de cativante em sua devoção (ainda que contraditória) à patroa Christine, ao mesmo tempo em que lida com seu próprio marido e os avanços dos homens ao seu redor. Ela é espirituosa, sarcástica e, em meio ao caos social e moral que o filme apresenta, parece a mais lúcida de todos.

Gosto muito de como Renoir filma certas cenas, especialmente no terceiro ato, que é um verdadeiro mergulho na loucura — uma mistura de farsa, tragédia e crítica social que ainda ecoa até hoje. A coreografia visual, o uso dos planos-sequência e o modo como os personagens entram e saem de cena refletem um domínio técnico irável. Também aprecio a forma como o diretor denuncia com sutileza e ironia a hipocrisia da burguesia sa da época.

Ainda assim, por mais que eu ire aspectos técnicos e pontuais da obra, a narrativa como um todo não me envolveu. Faltou algo que me fizesse sentir por aqueles personagens ou pelas suas histórias. O resultado final, para mim, ficou aquém da expectativa que um clássico desse porte costuma gerar.

Noites de Cabíria, dirigido por Federico Fellini, é um drama comovente sobre uma mulher à margem da sociedade que busca, acima de tudo, amor e pertencimento. A personagem-título, interpretada com uma entrega impressionante por Giulietta Masina, é o coração pulsante do filme. Mesmo que sua personalidade por vezes irrite – com seus trejeitos exagerados, sua teimosia infantil ou seu otimismo quase cego – é justamente essa mistura de bravura, ingenuidade e vulnerabilidade que torna Cabíria tão profundamente humana.

Giulietta Masina entrega uma atuação multifacetada: ela é palhaça, mártir, sonhadora e mulher ferida. Cada gesto, olhar e sorriso contém camadas de sentimentos não ditos. Sua Cabíria é ingênua, sim, especialmente no que diz respeito ao amor e à confiança nas pessoas – e é exatamente por isso que sua trajetória comove. Ela não se importa com dinheiro, vive reafirmando que “tem casa”, como se dissesse ao mundo que, apesar de tudo, ainda tem algo de estabilidade, alguma dignidade. Mas seu verdadeiro desejo é mais íntimo: ser amada de verdade. Nessa busca, é enganada, roubada, traída. Ainda assim, insiste. Resiste.

As cenas em que Cabíria dança mambo são alguns dos momentos mais vivos do filme. Neles, ela parece esquecer sua dor e se entregar à vida, mesmo que por alguns minutos. Há algo de libertador e trágico nessas danças, como se a música fosse sua última esperança de escapar do peso da realidade.

A trilha sonora de Nino Rota merece aplausos. Melódica, melancólica e evocativa, ela guia emocionalmente o espectador sem jamais soar manipulativa. A música é como um reflexo da alma de Cabíria: doce, triste, esperançosa.

E o final… O final é de partir o coração. Um desfecho devastador para a personagem, mas corajoso e poético por parte de Fellini. A última tomada – Cabíria, machucada, humilhada, mas ainda caminhando, cercada por jovens músicos e sorrisos – é uma das imagens mais belas e simbólicas do cinema italiano. Há algo de redentor em seu sorriso ambíguo. É como se dissesse: “Ainda estou aqui”.

Noites de Cabíria é um filme que, mesmo com algumas irregularidades no ritmo e uma protagonista que pode cansar em certos momentos, emociona profundamente. É uma história sobre persistência, sobre não desistir de acreditar, mesmo quando tudo insiste em dizer o contrário.

Moonstruck, dirigido por Norman Jewison e estrelado por Cher, Nicolas Cage e Olympia Dukakis, é uma comédia romântica cheia de charme, exagero e afeto familiar ao estilo italiano. A trilha sonora, marcada por clássicos como “That's Amore” e temas da ópera italiana, envolve a narrativa com uma atmosfera apaixonada e teatral, combinando perfeitamente com os dramas cotidianos da família Castorini.

O núcleo familiar da protagonista Loretta (Cher) é o coração do filme. Cada membro dessa família é um personagem vívido e intensamente emocional, representando diferentes visões do amor e das relações. A relação de Loretta com seu noivo Johnny se vê abalada quando ela conhece seu irmão, Ronny (Nicolas Cage), e é aqui que o filme atinge seu auge. A cena em que Ronny, intensamente interpretado por Cage, revela seu ressentimento por Johnny — “Ele tem a mão e tem uma noiva. Eu perdi minha mão! Eu perdi minha noiva!” — é absolutamente sensacional. Nicolas Cage entrega o personagem mais carismático e memorável do filme, misturando tragédia, paixão e um senso de humor quase involuntário.

Rose, a mãe de Loretta, vivida por Olympia Dukakis, é sem dúvida a melhor personagem dramática do filme. Em sua busca silenciosa por entender o comportamento masculino — especialmente a pergunta “Por que os homens correm atrás das mulheres?” — ela oferece os momentos mais profundos e filosóficos da narrativa, sem perder a leveza. Seu olhar atento e sua sabedoria silenciosa guiam tanto os personagens quanto o espectador.

Outro ponto cômico recorrente e inesperadamente divertido é a aparição do professor que sempre janta com alunas muito jovens, apenas para ser sistematicamente rejeitado nos restaurantes. Essas pequenas vinhetas de humor servem como contraponto às tensões dramáticas e mostram o lado mais absurdo e cíclico do amor.

No entanto, o filme apresenta alguns problemas no desenvolvimento do enredo. O ritmo por vezes se arrasta, e certas mudanças emocionais dos personagens parecem aceleradas ou mal fundamentadas. Há uma sensação de que algumas resoluções acontecem rápido demais, o que pode diminuir o impacto emocional de certos momentos.

Mas o final do final — aquele clímax familiar à mesa, com revelações, reconciliações e novos começos — é magistral. A tensão é construída com precisão, e o desfecho é tão catártico quanto teatral. Uma explosão de emoções, amores impossíveis que se tornam possíveis, e uma celebração da vida em família com todo o caos e o calor que ela envolve.

O que mais me agrada em Proposta Indecente, dirigido por Adrian Lyne, é a maneira inteligente com que ele constrói questionamentos profundos sobre relacionamento, parceria e moralidade. Lyne é mestre em abordar as fragilidades e os desejos humanos, e aqui ele entrega um filme que, apesar de envolto em um verniz de provocação sexual, se revela muito mais sobre os limites emocionais do amor e da confiança.

A proposta de John Gage (Robert Redford) – oferecer 1 milhão de dólares para ar uma noite com Diana (Demi Moore) – é instigante não apenas pela soma absurda, mas pela motivação por trás dela. Quando Diana diz a John que ele "não pode comprar o amor", ele se sente desafiado. E é exatamente essa provocação moral que impulsiona o cerne da história. John faz a proposta não por necessidade, mas como um jogo de poder, uma tentativa de quebrar a integridade daquela mulher que ousou lhe dizer “não”. Essa sacada é, para mim, a grande força do filme: o confronto entre valores e desejos em um mundo onde tudo parece ter um preço.

Robert Redford está impecável como John. Seu charme é natural, e sua elegância torna totalmente crível a ideia de que ele não precisaria pagar para conquistar ninguém. Mas é justamente esse poder de sedução, aliado à sua frieza calculada, que torna a proposta ainda mais perturbadora. Já Demi Moore está absolutamente deslumbrante, no auge de sua beleza. Diana é uma mulher magnética, que naturalmente provoca os olhares masculinos – o que torna plausível que alguém como John se sinta tentado a testá-la e, ao mesmo tempo, desejá-la de forma quase obsessiva.

Outro acerto do filme é a forma como Lyne trata as cenas de sexo e intimidade. Curiosamente, as cenas mais quentes e sensuais não envolvem a noite paga com John, que sequer é mostrada em tela. Toda a carga erótica do filme está nas cenas entre Diana e seu marido David (Woody Harrelson), o que reforça a conexão emocional e física real entre os dois. Destaque para a sequência no hotel e para a bela cena em que os dois fazem amor em meio ao dinheiro – uma imagem poderosa e ambígua, que mistura prazer, culpa e ambição.

No entanto, o filme perde força no terceiro ato. À medida que caminha para sua conclusão, ele escorrega em clichês de filmes românticos e entrega um desfecho fraco, covarde até, considerando tudo que foi construído antes. A decisão de John abrir mão de Diana da forma que é mostrada simplesmente não convence. Falta coerência com a complexidade do personagem e, principalmente, coragem do roteiro em lidar com as consequências reais da proposta indecente. O final parece mais uma tentativa de aliviar a tensão moral do espectador do que um encerramento digno da história.

Proposta Indecente é provocador, elegante e cheio de nuances, mas não escapa da armadilha de querer agradar demais no final. Ainda assim, vale a pena pela direção segura de Lyne, pelas atuações marcantes e pelas discussões que levanta. Uma proposta ousada, ainda que mal resolvida.

Thunderbolt and Lightfoot, dirigido por Michael Cimino, é um filme que se apoia fortemente — e com justiça — na química entre Clint Eastwood e Jeff Bridges. A dinâmica entre os dois personagens principais é, para mim, o coração da obra. A jornada que ambos percorrem, com momentos de camaradagem, tensão e cumplicidade, é o que realmente sustenta o interesse do espectador. Jeff Bridges, em particular, traz uma leveza e carisma que contrastam bem com o estoicismo típico de Eastwood, gerando uma relação que prende mais que a própria trama.

No entanto, o roteiro em si deixa a desejar. O desenvolvimento da história é irregular e o ritmo no meio do filme sofre consideravelmente. Há uma "barriga" evidente que quebra a fluidez da narrativa, fazendo com que o filme pareça se arrastar em certos momentos. O tom também oscila, sem conseguir equilibrar bem os elementos de comédia, drama e ação.

Apesar desses problemas, o final me agradou bastante. É um desfecho corajoso, que foge do óbvio e deixa uma marca emocional forte, encerrando a história com uma nota agridoce que valoriza os personagens, principalmente Lightfoot.

Em resumo, Thunderbolt and Lightfoot vale pela relação entre os protagonistas, mas tropeça no roteiro e na condução da narrativa. Um filme irregular, mas com momentos de brilho.

Pride and Prejudice, dirigido por Joe Wright e baseado no clássico de Jane Austen, é uma joia delicada no gênero do romance, que se destaca por uma construção emocional intensa feita de olhares, palavras e pequenos gestos — e não de toques ou beijos. Aqui, o amor nasce e cresce na alma, com uma intensidade que raramente se vê em romances contemporâneos.

O destaque absoluto do filme é a construção cuidadosa e envolvente dos personagens principais: Elizabeth Bennet e Mr. Darcy. Desde o primeiro encontro deles, marcado por sarcasmo e mal-entendidos, até a transformação mútua que os leva ao respeito e ao amor verdadeiro, a relação é desenvolvida com profundidade e sensibilidade. Cada interação entre os dois é carregada de tensão emocional, e momentos simples — como o toque de mãos ao ajudar Elizabeth a subir na carruagem ou a emblemática cena dela fechando o livro após ouvir Darcy dizer que ira mulheres que leem — ganham um peso simbólico enorme.

A atuação de Keira Knightley como Elizabeth é ao mesmo tempo vibrante e contida, capturando a força e a vulnerabilidade da personagem. Matthew Macfadyen, como Mr. Darcy, entrega uma performance silenciosa e introspectiva, tornando sua evolução emocional ainda mais impactante. O elenco de apoio também é sólido, ajudando a construir uma atmosfera crível e envolvente da sociedade inglesa do século XIX.

É um filme de romance que aposta na sutileza — e vence por isso. Não há grandes demonstrações físicas de afeto, mas cada gesto, cada frase dita (ou não dita), carrega consigo uma carga emocional imensa. O amor aqui não é consumido, é contemplado, sofrido, aguardado.

Embora não seja perfeito e alguns possam sentir falta de um ritmo mais ágil, Pride and Prejudice é um romance que respeita a inteligência do espectador, confiando na força das emoções contidas.

Dirigido por Stephen Frears, High Fidelity é uma pérola cult que brilha tanto pelo seu conteúdo quanto pela forma com que é contado. Frears merece aplausos pela maneira como conduz a narrativa: íntima, direta e envolvente. Ele dá vida a um personagem principal que é, sem rodeios, um babaca — e o filme faz questão de mostrar isso sem tentar suavizar ou redimir suas atitudes de forma gratuita. Na verdade, a trama chega a zombar de Rob, seu egoísmo e sua visão distorcida de relacionamentos, sem nunca perder o humor ou a autocrítica.

A quebra da quarta parede é um recurso brilhantemente utilizado. Rob conversa com o público como se estivéssemos ouvindo suas divagações mais íntimas, nos envolvendo emocionalmente e, ao mesmo tempo, nos tornando cúmplices de suas falhas. Essa conexão faz o filme ganhar uma dimensão mais pessoal e reflexiva.

O roteiro é um dos grandes trunfos da obra. Ele fala sobre frustração — pessoal, amorosa e profissional — com uma sensibilidade surpreendente, sem cair na armadilha do melodrama. Ao longo do filme, fica claro que o problema dos relacionamentos de Rob nunca foi "as mulheres", mas sim ele mesmo: sua imaturidade, insegurança e mania de romantizar o ado enquanto foge da responsabilidade de mudar.

Outro ponto genial é o uso das listas — de piores términos, melhores músicas, faixas ideais para mixtapes ou empregos dos sonhos — que funcionam como janelas para a psique de Rob e como uma forma criativa de conduzir a narrativa. Elas são engraçadas, humanas e extremamente relacionáveis.

A edição do filme também é excelente: dinâmica, ágil, e com ritmo certeiro. Ela acerta em cheio ao potencializar o humor em cenas específicas e dar fluidez à narrativa. As transições entre os pensamentos de Rob e os acontecimentos são bem costuradas, mantendo o espectador sempre imerso.

O amor à música e à arte permeia cada cena — e o filme não trata isso com superficialidade. Ele mergulha nesse universo com respeito e paixão, capturando perfeitamente a obsessão e o entusiasmo de quem vive cercado por discos e referências cult.

Jack Black, como Barry, é absolutamente hilário e rouba a cena com sua energia caótica e carisma inegável. Seu timing cômico é perfeito, trazendo leveza e momentos memoráveis ao filme. É impossível não rir com suas intervenções.

E Laura... Laura é linda. Não tem como não se apaixonar, especialmente pelo jeito natural com que ela impõe presença, e aquela franja? Conquistadora. Há algo na forma como ela olha, fala e enfrenta Rob que nos faz torcer por ela, mesmo quando ele tenta sabotar tudo.

Curiosamente, muitas pessoas odeiam o Tom de 500 Dias com Ela, mas se assistissem High Fidelity, perceberiam que Rob é infinitamente mais detestável — e justamente por isso, tão humano. Ele dá motivos de sobra para ser criticado, mas também serve como espelho incômodo para nossos próprios defeitos e autoenganações.

High Fidelity é um retrato inteligente e ácido da masculinidade em crise, recheado de música boa, humor afiado e verdades difíceis de engolir. Um clássico para revisitar com os ouvidos e o coração abertos.

Billy Wilder criou, com Some Like It Hot, uma obra-prima absoluta do cinema que continua tão engraçada, encantadora e transgressora quanto foi em seu lançamento em 1959. A genialidade de Wilder está em transformar uma premissa ousada — dois músicos que se disfarçam de mulheres para fugir da máfia — em uma comédia repleta de ritmo, charme e, principalmente, inteligência. Para além das risadas, o filme é uma crítica sutil e sofisticada sobre os papéis de gênero, a hipocrisia social e o modo como as mulheres são vistas e tratadas na sociedade.

O trio protagonista é excelente, com destaque absoluto para Jack Lemmon, que rouba a cena como Jerry/Daphne. Ele está hilário, irresistivelmente divertido e entrega uma performance física e cômica de altíssimo nível. Sua capacidade de transformar situações absurdas em momentos de puro riso é impressionante — e seu envolvimento com Osgood Fielding III culmina em um dos finais mais geniais e corajosos da história do cinema.

Marilyn Monroe, como Sugar Kane, está apaixonante. Muito além de seu habitual sex appeal, ela entrega uma atuação carismática, doce, engraçada e cheia de nuances. Marilyn nunca esteve tão charmosa, com um timing cômico afiadíssimo e uma presença magnética que torna impossível tirar os olhos dela. Sua química com Tony Curtis é deliciosa, mesmo que Curtis, interpretando Joe/Josephine, seja o mais discreto do trio. Ele está bem, cumpre bem seu papel, mas acaba sendo ofuscado pela energia contagiante de Lemmon e pelo brilho estonteante de Marilyn.

O roteiro é simplesmente brilhante. Não apenas pelas piadas que continuam funcionando mais de seis décadas depois, mas pela forma elegante com que faz comentários sociais relevantes. Wilder, junto com o co-roteirista I.A.L. Diamond, constrói diálogos afiados e situações cômicas que funcionam como espelhos da sociedade — especialmente no que diz respeito ao papel e à objetificação das mulheres. E tudo isso sem soar didático ou forçado; ao contrário, tudo é leve, divertido e extremamente eficaz.

O ritmo do filme é impecável. Não há barrigas ou momentos arrastados — cada cena é bem construída, cada situação tem um propósito, e o espectador se vê envolvido do início ao fim. É um filme que pulsa com energia, estilo e entusiasmo, e que sabe exatamente como entreter sem subestimar sua audiência.

O final merece destaque especial. Com sua célebre última frase:“Well, nobody's perfect".Wilder fecha o filme de forma perfeita: com humor, ousadia e uma quebra de expectativas que ainda surpreende. É um desfecho brilhante, corajoso e emblemático — especialmente se considerado o contexto conservador da época.

Some Like It Hot é um clássico atemporal, uma comédia que continua fresca, relevante e absolutamente deliciosa. É uma aula de roteiro, direção e atuação — e uma lembrança de que grandes filmes resistem ao tempo justamente por serem feitos com inteligência, coração e um toque de ousadia.

Bringing Out the Dead começa com força total: Nicolas Cage no auge do seu modo “louco introspectivo”, uma trilha sonora excelente que encaixa perfeitamente no clima urbano e caótico, e uma premissa intrigante — um paramédico exausto, à beira do colapso, tentando manter a sanidade enquanto enfrenta um turno atrás do outro em um hospital superlotado e decadente.

Durante o início, o filme parece promissor. A direção de Martin Scorsese é competente, a fotografia noturna de Nova York é estilizada e há um senso de urgência que prende. Mas, para mim, isso logo se perde. Cada vez que o personagem Frank, interpretado por Cage, mencionava a Rose ou via o rosto dela refletido nas pessoas ao redor, o filme me afastava. A tentativa de transmitir a culpa e o tormento psicológico dele simplesmente não funcionou — eu só queria pegar o celular e sair do tédio.

O ritmo se arrasta e o drama existencial vira repetitivo. O filme parece rodar em círculos sem evoluir. É uma pena, porque há momentos realmente bons: a cena do parto, intensa e bem executada, e o diálogo com o suicida ao lado do parceiro Tom, que traz uma rara conexão emocional genuína. Os coadjuvantes também ajudam a manter alguma atenção — o hilário Noel, que arranca risadas; Cy, mais centrado; e Mary, que traz um pouco de sensibilidade.

Apesar dos pontos positivos, no geral o filme me cansou mais do que me envolveu. A tentativa de ser profundo acaba soando pretensiosa e, pessoalmente, difícil de acompanhar até o fim.

Who watches The Watchmen ?

Zack Snyder entrega, em Watchmen, uma das mais ousadas e impactantes adaptações de quadrinhos já feitas. Baseado na obra-prima de Alan Moore e Dave Gibbons, o diretor constrói um universo de super-heróis que quebra completamente as expectativas do público acostumado com figuras idealizadas e moralmente corretas. Aqui, os heróis são falhos, humanos, muitas vezes cruéis – e é justamente isso que torna o filme tão fascinante.

Visualmente, este é o trabalho mais belo de Snyder. A sua direção é impecável e recheada com todas as suas marcas registradas: o uso intenso do slow motion, a violência gráfica estilizada, uma fotografia monocromática carregada de tons escuros e azulados, além da constante presença da chuva, que imprime uma atmosfera melancólica e reflexiva ao filme. Cada quadro é milimetricamente composto como se fosse uma pintura.

A trilha sonora é outro ponto alto. As músicas escolhidas casam perfeitamente com as cenas e ajudam a construir momentos memoráveis. A sequência do enterro do Comediante, ao som de The Sound of Silence, é de uma beleza triste e contemplativa. Já a polêmica cena de sexo entre Espectral II e Coruja II, embalada por Hallelujah, é ousada e marcante – uma escolha de música que poderia soar irônica, mas funciona perfeitamente dentro do estilo operático do diretor.

A abertura do filme é um espetáculo à parte. Com uma montagem estilizada que apresenta o ado dos heróis ao som de The Times They Are A-Changin, Snyder oferece uma das melhores aberturas da história do cinema – uma verdadeira aula de como contar muito com pouco diálogo.

O longa mergulha em questões morais profundas, retratando super-heróis que cometem atos questionáveis como assassinato e estupro. O Comediante, em especial, se destaca como um personagem extremamente complexo: uma sátira brutal do americano patriota e cínico, sua visão distorcida do mundo e sua moral ambígua são fundamentais para o tom sombrio do filme. Ele é violento, misógino e perturbador, mas também é um espelho cruel de uma sociedade em decadência.

Outro destaque é a construção de Dr. Manhattan, retratado como uma entidade quase divina, mas cada vez mais distante da humanidade. Sua dificuldade de se conectar com as emoções humanas e sua percepção do tempo e da existência são fascinantes e rendem algumas das cenas mais filosóficas do filme.

Rorschach, por sua vez, é o coração sombrio da narrativa. Suas convicções extremas sobre justiça e moralidade, seu ado traumático e sua recusa em comprometer seus princípios fazem dele um dos personagens mais complexos já colocados em tela em filmes de super-heróis.

Watchmen prova que o cinema de heróis pode ser muito mais do que um produto comercial. Snyder entrega uma obra que vai além do blockbuster, explorando temas adultos, dilemas éticos e consequências reais. Não é um filme para agradar massas, mas sim para desafiar o espectador.

A única crítica mais contundente vai para o final do filme. Embora seja funcional e coerente dentro da adaptação, falta o impacto conceitual do final da HQ, que tem uma resolução mais ousada e ambígua. Snyder opta por uma saída mais “palatável”, mas que não carrega o mesmo peso da obra original.

Mesmo assim, Watchmen é uma obra única e essencial. Um filme que mostra que os super-heróis também podem habitar o terreno da arte e da crítica social, e não apenas dos lucros e das franquias.

Paul Verhoeven é um diretor que nunca teve medo de provocar, e Starship Troopers (1997) talvez seja uma das suas obras mais malcompreendidas — e, por isso mesmo, mais fascinantes. À primeira vista, o filme parece um épico de ficção científica genérico, repleto de soldados bonitos, batalhas sangrentas contra insetos alienígenas e uma narrativa de sacrifício patriótico. Mas logo fica claro: tudo isso é parte de uma sátira mordaz ao militarismo e ao fascismo, construída com inteligência disfarçada de estupidez.

Verhoeven escancara a estética fascista — uniformes que lembram abertamente o nazismo, disciplina cega e a glorificação da guerra — e a mistura com uma avalanche de propagandas que pontuam o filme. São comerciais longos, invasivos, que incentivam a juventude a "fazer sua parte" e se alistar, com um tom ufanista grotesco que beira o absurdo. Essas inserções publicitárias, repetidas e estilizadas como campanhas patrióticas, são o retrato de uma sociedade que perdeu completamente o senso crítico. É impossível não lembrar da manipulação midiática dos regimes autoritários do século XX — e talvez até da nossa própria realidade.

No centro dessa crítica está Johnny Rico (Casper Van Dien), o protagonista mais intencionalmente raso da história recente do cinema. Sua decisão de se alistar no exército não vem de ideais nobres, nem mesmo de um conflito pessoal, mas simplesmente por querer impressionar Carmen (Denise Richards, no auge de sua beleza genérica e gelada). A motivação ridícula é proposital: Verhoeven transforma essa escolha em um símbolo do quão frágil e idiota pode ser o impulso por trás de grandes decisões em tempos de propaganda extrema. O romance é vazio, os personagens são estereotipados — tudo por design. O tom é quase paródico, e é justamente aí que reside a genialidade do filme.

Apesar de toda essa crítica embutida,
Starship Troopers funciona como entretenimento. As batalhas são empolgantes, os efeitos práticos e digitais ainda impressionam em certos momentos, e há uma certa satisfação em acompanhar a jornada absurda desses soldados de plástico. Para quem assistir só pela ação, o filme entrega. Mas, para quem parar para pensar no que está por trás das explosões, encontra um comentário feroz sobre a glorificação da violência, a desumanização do inimigo e a facilidade com que o autoritarismo pode ser vendido com um sorriso branco e um uniforme bem ado.

Verhoeven ri da guerra, dos heróis e de quem leva tudo isso a sério. Starship Troopers não é um filme perfeito — em certos momentos, o sarcasmo pode parecer tão sutil que vira ambíguo, e nem todos os espectadores pegam a piada. Mas talvez isso faça parte do plano: permitir que a crítica se esconda atrás da própria estética que ridiculariza.

FREEDOM!!!

Braveheart, dirigido e protagonizado por Mel Gibson, é um dos grandes épicos do cinema moderno. Com uma condução segura, intensa e apaixonada, Gibson constrói uma obra grandiosa, que mistura drama histórico, heroísmo clássico e cenas de batalha eletrizantes. Sua direção é digna de elogios — ele consegue equilibrar o espetáculo visual com a profundidade emocional da trama, entregando um filme que é ao mesmo tempo emocionante e visualmente deslumbrante.

O uso de locações reais nas Terras Altas da Escócia contribui para a imersão e autenticidade do longa, ressaltadas por uma fotografia belíssima, que sabe valorizar tanto os campos abertos quanto os momentos mais íntimos e sombrios. A trilha sonora composta por James Horner é outro destaque. Ela acentua com maestria os tons épicos e emocionais da narrativa, e torna inesquecíveis momentos como o discurso pré-batalha e o ato final.

William Wallace, interpretado por Mel Gibson, é construído como um herói lendário — e com razão. Ele é não apenas um guerreiro feroz, mas também um homem sábio e profundamente apaixonado. A maneira como o filme apresenta seu amor por Murron é acertadíssima: é a faísca que acende a chama de toda a história. Essa paixão pessoal dá peso às decisões de Wallace e conecta emocionalmente o espectador à sua jornada. A dor da perda e o desejo de justiça se transformam em uma luta maior pela liberdade da Escócia.

Um dos elementos mais chocantes do filme é a ordem da "prima nocte" proclamada pelo Rei Eduardo I, permitindo que nobres ingleses tenham o direito à primeira noite com mulheres escocesas recém-casadas. Do ponto de vista moral, é uma das decisões mais vis moralmente repulsivas já mostradas no cinema. Mas do ponto de vista histórico e estratégico, é uma jogada brilhante e cruel que mostra o pragmatismo brutal da Coroa inglesa para consolidar o domínio na Escócia.

As cenas de batalha são um espetáculo à parte. Bem filmadas, intensas e com excelente coreografia, conseguem transmitir toda a brutalidade dos combates medievais, sem jamais perder o espectador. Mais do que apenas pancadaria, essas sequências são emocionantes porque carregam o peso da motivação de Wallace e seus companheiros. Os discursos inflamados de William, especialmente aquele antes da primeira grande batalha, são arrepiantes. Ele encarna o espírito da liberdade e a resistência contra a opressão com uma força quase mítica. Sua causa é bela e inspiradora — lutar por liberdade, não por vingança, é o que o torna um verdadeiro líder.

A traição de Robert the Bruce e de outros nobres escoceses é outro acerto do roteiro. Ela aprofunda a trama e mostra que o maior inimigo, muitas vezes, está dentro de casa. Gibson foi esperto em usar esse elemento para derrotar Wallace sem desmerecê-lo — ao contrário, a traição apenas aumenta sua grandeza, mostrando que ele se manteve fiel aos seus princípios enquanto outros se curvavam à conveniência política.

O elenco está afiadíssimo. Mel Gibson entrega uma performance carismática, intensa e vulnerável. Patrick McGoohan, como o cruel Rei Eduardo I, é um vilão formidável. Sophie Marceau dá leveza e charme à princesa Isabelle, enquanto Brendan Gleeson, como Hamish, é um companheiro de luta forte e humano.

O ato final é simplesmente lindo. A execução de Wallace, com todo o simbolismo de seu sofrimento e seu grito de “Liberdade!”, é uma das cenas mais impactantes e emocionantes do cinema. É um encerramento poderoso para uma história que fala sobre coragem, sacrifício e a eterna luta contra a tirania.

Com Braveheart, Mel Gibson entrega uma obra-prima quase irretocável, com apenas pequenos excessos narrativos que não diminuem sua força geral. Um épico que emociona, empolga e inspira.

Belfast, dirigido por Kenneth Branagh, é um filme nostálgico e pessoal, claramente inspirado por clássicos do cinema, especialmente Como era verde o meu vale, de John Ford. A influência de Ford é sentida em cada plano em preto e branco, no olhar saudosista para uma infância em meio a um cenário turbulento, e no esforço em mostrar uma comunidade operária com dignidade e afeto. No entanto, Belfast não atinge a mesma profundidade emocional e força narrativa do filme de Ford, que ainda permanece incomparável em sua sutileza e impacto dramático.

Apesar disso, é inegável o prazer de assistir Belfast. O filme tem um charme imediato, muito por conta do protagonista Buddy, interpretado com um carisma irresistível por Jude Hill. O garoto é fofo, expressivo e conquista o público logo nas primeiras cenas. Suas interações na escola, especialmente com a garota por quem tem uma queda, são doces e cheias de leveza — momentos que trazem um respiro cômico e encantador em meio à tensão do contexto social.

Outro ponto alto do filme são as cenas com os avós, interpretados com enorme ternura e presença por Ciarán Hinds e Judi Dench. Essas sequências são, sem dúvida, as mais tocantes do longa. Existe uma verdade e uma sensibilidade ali que fazem o filme brilhar. Judi Dench entrega uma performance comovente, contida e carregada de emoção. Já Ciarán Hinds oferece calor humano e uma sabedoria silenciosa que dá ao filme o seu coração. O elenco como um todo é excelente, desde Jamie Dornan e Caitríona Balfe como os pais até os coadjuvantes — todos bem dirigidos e comprometidos com a narrativa.

Contudo, Belfast tropeça ao tentar contextualizar de maneira mais profunda o período em que se a. A questão política envolvendo o conflito entre católicos e protestantes, assim como a escalada da violência e a tensão na Irlanda do Norte no final dos anos 1960, é tratada de forma superficial. O filme prefere o filtro da memória afetiva à análise histórica ou sociológica, o que o torna mais emocional, mas também menos impactante no plano político. A guerra que molda a vida do protagonista está sempre presente, mas nunca plenamente explorada.

Belfast é, portanto, um filme belo, bem atuado e afetuoso, que toca o coração em diversos momentos. Falta-lhe, porém, a densidade e o poder transformador de sua principal inspiração. Ainda assim, com seus méritos e limitações, vale a pena ser visto.

O primeiro ato de Sleeping with the Enemy é, sem dúvida, a parte mais impactante e bem construída do filme. Desde o início, somos apresentados a Martin (Patrick Bergin), um marido controlador, abusador e extremamente possessivo. Sua obsessão por organização — toalhas perfeitamente alinhadas, latas meticulosamente organizadas — e o hábito perturbador de escutar a mesma música para fazer sexo revelam um perfil psicológico doentio, que vai muito além do ciúmes. A dinâmica abusiva entre ele e Laura (Julia Roberts) é retratada de forma convincente: ele a agride fisicamente e, em seguida, tenta se redimir com presentes caros, uma tática clássica de manipulação emocional. Essa primeira parte consegue transmitir de maneira crua e angustiante o ciclo do abuso, e é nesse ponto que o filme mais acerta.

No entanto, o segundo ato se perde completamente. Após a fuga de Laura, o filme muda drasticamente de tom e parece abandonar o thriller psicológico para investir em um romance insosso com o novo vizinho, Ben. A química entre os dois personagens é quase inexistente, e o ritmo desacelera tanto que parece que estamos assistindo a outro filme — e um bem menos interessante. O foco se desloca para situações mais leves e previsíveis, o que dilui o impacto inicial da trama e enfraquece a tensão que vinha sendo construída.

Felizmente, o terceiro ato consegue recuperar parte da intensidade do começo com a reaparição de Martin. A sequência na casa, onde sentimos que ele pode atacar a qualquer momento, é muito bem dirigida e consegue criar um suspense real, principalmente com o apoio da trilha sonora, que trabalha de forma eficiente para aumentar a tensão. A atmosfera de medo volta a dominar a narrativa, nos lembrando do perigo real que Laura enfrenta.

Um dos grandes méritos do filme é a atuação de Patrick Bergin como Martin. Ele constrói um vilão assustador, frio e calculista, que realmente se destaca na história. Suas cenas são, de longe, as mais fortes do longa e as que mais ficam na memória após o fim da sessão. Seu desempenho carrega uma ameaça constante que torna cada aparição sua inquietante.

No geral, Sleeping with the Enemy é um filme irregular: começa forte, se perde no meio e termina razoavelmente bem. É uma pena que não tenha mantido o tom sombrio e tenso do início ao longo de toda a trama.

Pleasure é um filme que parte de uma excelente ideia: mergulhar com olhar cru e direto na realidade da indústria pornográfica. A proposta é ousada e relevante, especialmente num momento em que a pornografia se tornou um conteúdo ível a qualquer um, a qualquer hora. No entanto, o filme falha na execução. O roteiro, apesar de promissor, carece de profundidade e desenvolvimento — falta explorar com mais nuance as complexidades e contradições desse universo tão controverso.

A obra até consegue escancarar o quão suja, violenta e misógina pode ser a indústria pornô. Ela retrata com frieza cenas em que estupros encenados — e muitas vezes com limites morais extremamente questionáveis — são não só filmados, como consentidos pelas garotas e vendidos como material legalizado na internet. O que choca é a naturalidade com que esses conteúdos são tratados, reflexo de um mercado onde o que mais gera lucro é o pornô extremo, degradante e humilhante para as mulheres. Talvez, isso seja uma consequência direta da banalização do sexo diante de tanto conteúdo gratuito e ível. O que antes era considerado excitante, hoje parece não bastar para uma audiência dessensibilizada.

Apesar dos problemas no roteiro, a atuação da protagonista, Sofia Kappel, é um dos grandes acertos do filme. Sua entrega ao papel é impressionante e corajosa, especialmente em um cenário tão delicado e intenso. Ela carrega a narrativa com força e vulnerabilidade, o que dá alguma sustentação emocional à trama.

Confesso que pulei algumas cenas. Por mais que eu entenda a proposta artística da diretora, não estava interessado em assistir cenas de pornografia em um filme. A exposição visual, em certos momentos, ultraa o necessário para se construir a crítica proposta, e acaba mais chocando do que promovendo reflexão.

O final também me decepcionou. Faltou impacto, faltou fechamento. A sensação é de que a história parou no meio do caminho, deixando a personagem — e o público — à deriva.

Sick of Myself tenta ser uma sátira sobre o narcisismo contemporâneo, sobre uma sociedade obcecada por atenção, onde a exposição vale mais do que qualquer traço de dignidade. A proposta até é interessante — e infelizmente tão atual —, mas para mim, o filme simplesmente não funcionou.

Desde o início, os protagonistas Signe e Thomas se mostram figuras ináveis, mas não de uma maneira cômica ou instigante. Eles são simplesmente irritantes, egocêntricos em excesso, sem qualquer traço que os tornasse minimamente cativantes. Acompanhá-los em sua espiral de autodestruição virou uma experiência cansativa e frustrante. A certa altura, eu já não me importava nem um pouco com o que aconteceria com eles — na verdade, torcia para que o filme acabasse logo.

Assistindo a Sick of Myself, não pude deixar de pensar nas figuras das subcelebridades brasileiras, como Davi Brito, Virgínia Fonseca e tantos outros que parecem viver num eterno ciclo de autopromoção na internet. Essa comparação talvez seja um mérito do filme — ele espelha a realidade de maneira incômoda —, mas o desconforto aqui não vem de uma provocação inteligente: vem da exaustão de ver personagens vazios, barulhentos e sem nuance, sem qualquer interesse narrativo real.

Além dos problemas com roteiro e personagens, a direção também deixa a desejar. A construção das cenas é repetitiva, quase preguiçosa, e a edição parece perdida, sem ritmo. Algumas escolhas de montagem deixam tudo ainda mais arrastado, como se o filme se estendesse muito além do necessário, tornando a experiência ainda mais penosa.

Sick of Myself poderia ter sido uma crítica ácida e afiada ao culto do ego moderno, mas se perde na própria caricatura. Ao fim, é apenas um retrato cansativo de personagens que a gente já vê demais na vida real.

"The earth is evil, we don't need to grieve for it. Nobody will miss it"

Lars von Trier, em Melancholia, entrega uma obra de arte cinematográfica profunda e inesquecível. Desde a sequência inicial, com imagens em câmera lenta e composições surrealistas de tirar o fôlego, somos lançados em um universo de pura beleza e tensão. Essa abertura, além de ser esteticamente impecável, já prepara o espectador para o mergulho emocional que o filme propõe, impactando e hipnotizando com sua poesia visual.

A direção de Lars é sublime. Ele aborda temas complexos como a depressão e a ansiedade de maneira tão real e visceral que é impossível não se conectar. A personagem Justine, interpretada por uma Kristen Dunst exuberante, é o retrato vivo da depressão: capaz de sorrir falsamente em uma cena e, na seguinte, transmitir todo o peso da tristeza e da autossabotagem. Kristen entrega uma atuação impecável, encantadora e perturbadora ao mesmo tempo. Sua beleza frágil, sua expressão entre o êxtase e o desespero, faz de Justine uma das personagens mais memoráveis do cinema contemporâneo. O casamento, que deveria ser o ápice da felicidade, é transformado em um dos retratos mais brilhantes da deterioração emocional, e é, sem dúvida, uma das melhores festas de casamento já mostradas no cinema.

A irmã Claire, vivida de forma magnífica por Charlotte Gainsbourg, também brilha intensamente. No primeiro ato, já percebemos sua força e sua sensibilidade. No segundo, ela domina a narrativa, mostrando a mulher amorosa, a mãe cuidadosa, mas também a vítima da ansiedade que cresce à medida que o planeta Melancholia se aproxima da Terra. Gainsbourg expressa, com poucas palavras e olhares carregados de medo, toda a agonia interna de sua personagem. Sua relação com o marido controlador e a tensão constante traduzem perfeitamente o pânico que consome aqueles que sofrem de ansiedade.

A decisão de dividir o filme em dois atos mais a introdução é outro grande acerto de Lars von Trier. Essa estrutura não só organiza a jornada emocional das personagens, mas intensifica a sensação de que estamos assistindo a uma tragédia anunciada, inevitável. O uso do planeta Melancholia como metáfora é genial — a iminente colisão espelha o sentimento de desespero e autodestruição que consome Justine, além de intensificar o medo e a impotência de Claire. Em última análise, a morte — o fim de tudo — é tratada não como algo explosivo, mas como algo belo e até pacífico, em perfeita consonância com o estado mental das protagonistas.

O final do filme é simplesmente perfeito: delicado, simbólico e profundamente emocionante. A cena derradeira encerra de maneira sublime tudo o que foi construído anteriormente, deixando uma marca indelével no coração do espectador.

Pedro Almodóvar mais uma vez demonstra sua maestria em ¡Átame!, entregando um filme visualmente belíssimo e provocativo. Sua direção é precisa e cheia de inventividade, especialmente no uso de espelhos, que ele transforma em elementos narrativos importantes e poderosos para a composição de cenas que misturam sensualidade, tensão e beleza estética.

O filme é ousado, como é característico do cineasta, e consegue abordar, de maneira inteligente, questões profundas da sociedade espanhola da época — a solidão, a busca por afeto, e a marginalização. Almodóvar sabe transitar como poucos entre o provocativo e o sensível, e é impressionante como ele dirige as cenas de sexo: são carregadas de erotismo, mas nunca gratuitas, filmadas com uma delicadeza que imprime humanidade aos personagens.

As atuações também merecem destaque. Victoria Abril (Marina) está excelente, trazendo vulnerabilidade e força na medida certa para sua personagem. Já Loles León (Lola) é um furacão em cena, dando um ritmo vibrante às suas aparições. A química entre o elenco ajuda a sustentar o tom excêntrico e ional da narrativa.

A premissa de ¡Átame! é bastante interessante e instigante — um jovem que sequestra uma atriz na esperança de que ela se apaixone por ele —, mas infelizmente senti que o desenvolvimento da história, especialmente do meio para o final, perde força. A condução da narrativa parece apressada em alguns momentos, e certos conflitos que poderiam ser melhor explorados acabam resolvidos de forma abrupta.

Por outro lado, a trilha sonora do filme é outro ponto fortíssimo. Envolvente e emocional, ela consegue amplificar a atmosfera de romance, loucura e melancolia que permeia toda a obra.

K-PAX, dirigido por Iain Softley, parte de uma premissa instigante: um homem que afirma ser de outro planeta é internado em um hospital psiquiátrico e começa a desafiar não apenas a lógica médica, mas também as crenças de quem o cerca. A proposta é original e, no início, o filme prende com uma atmosfera de mistério e toques de ficção científica que abrem espaço para boas reflexões sobre humanidade, empatia e a forma como lidamos com o sofrimento mental.

O personagem Prot, vivido por Kevin Spacey, é o grande trunfo do filme. Com serenidade e inteligência, ele não apenas cativa os pacientes da instituição, mas também influencia positivamente suas vidas, ajudando-os a enfrentar seus traumas e limitações. Sua relação com o psiquiatra Mark Powell (Jeff Bridges) é o fio condutor da trama, e é nos momentos em que o filme se dedica à conexão emocional entre os personagens que ele realmente brilha. A jornada do doutor para se reconectar com sua própria família, inspirada por Prot, é uma das partes mais humanas e tocantes da narrativa.

No entanto, o filme parece se perder à medida que se aproxima do clímax. O diretor hesita entre seguir pelo caminho da ficção científica ou optar por uma abordagem mais simbólica e psicológica — e essa indecisão acaba diluindo o impacto do desfecho. O final, ao invés de esclarecer ou provocar, deixa uma sensação de frustração, como se o roteiro não soubesse bem onde queria chegar.

K-PAX tem momentos que valem a pena, principalmente aqueles que provocam reflexão sobre como tratamos a loucura e a dor do outro. Mas no geral, é uma obra que desperdiça seu potencial por falta de foco narrativo.

David Lynch retorna ao universo de Twin Peaks não para oferecer conforto ou nostalgia, mas para desconstruir, expandir e reinventar tudo o que conhecíamos sobre a série. The Return é ao mesmo tempo uma continuação e uma revolução, uma obra que desafia o espectador e se recusa a dar respostas fáceis — exatamente como deveria ser.

A temporada rompe deliberadamente com o tom e o ritmo da série clássica, assumindo uma estrutura fragmentada, por vezes elíptica, que abre espaço para interpretações infinitas e sensações únicas. O que mais fascina aqui é como Lynch mergulha fundo na mitologia da Black Lodge, expandindo seus símbolos, regras e personagens de forma quase mística. A presença mais constante da Lodge é um deleite para quem sempre se encantou com os aspectos mais esotéricos da série.

A utilização dos doppelgängers é outro grande acerto. A dinâmica entre o agente Cooper “malvado” e o ingênuo Dougie Jones funciona de maneira brilhante. Kyle MacLachlan entrega uma atuação impressionante ao alternar entre versões tão distintas do mesmo personagem, sustentando o mistério e a tensão mesmo quando está completamente ivo como Dougie. O humor, quando aparece, é excelente — seco, estranho e tipicamente lynchiano.

Mas nem tudo funciona perfeitamente. Há uma frustração palpável com o fato de que Lynch parece criar subtramas que se perdem ou são abandonadas sem cerimônia. Algumas narrativas parecem promissoras e somem sem resolução, o que pode causar certo cansaço ou sensação de descaso, especialmente em uma temporada tão longa e densa.

Ainda assim, os episódios finais compensam qualquer tropeço. A volta triunfal do verdadeiro agente Cooper é emocionante e cheia de peso dramático. Sua tentativa de salvar Laura Palmer leva a um final críptico, inquietante e absolutamente Twin Peaks. A última cena, carregada de silêncio e estranheza, ecoa na mente por muito tempo depois que os créditos sobem. Lynch não quer que entendamos, ele quer que sintamos — e consegue isso com maestria.

Em resumo, Twin Peaks: The Return é uma experiência audiovisual única, repleta de ousadia, desconforto e beleza. É arte em estado bruto, e mesmo com seus tropeços, continua sendo uma das coisas mais fascinantes já feitas para a TV.

Watched on Monday April 21, 2025.

The Florida Project, dirigido por Sean Baker, é um retrato agridoce da infância à margem do sonho americano — e, no centro dessa história poderosa, está a magnética atuação de Brooklynn Prince no papel de Moonee. Ela é o coração pulsante do filme, uma criança que não para um segundo, sempre em movimento, sempre encontrando uma nova travessura ou aventura no pequeno universo que habita. Sua performance é tão espontânea, vibrante e cheia de vida que é impossível não se encantar. Brooklynn transforma Moonee numa força da natureza, alguém que, apesar de viver em um ambiente de extrema precariedade, enxerga o mundo com olhos cheios de cor, graça e possibilidades.

Baker constrói, com sensibilidade e realismo quase documental, uma crítica dura à sociedade americana. À sombra da Disney World — símbolo máximo de fantasia, consumo e escapismo —, existe um mundo real, onde famílias vivem em motéis decadentes, sobrevivendo como podem. É um contraste brutal: enquanto turistas se encantam com castelos e fogos de artifício, crianças como Moonee crescem sem o à educação adequada, dependendo de doações, comida de segunda mão e, muitas vezes, da prostituição como último recurso de sobrevivência, como vemos na trajetória desesperada da mãe da protagonista.

O filme não oferece soluções fáceis nem finais redentores. Seu mérito está justamente em expor o abismo social com honestidade, dando voz e rosto aos invisíveis. Ainda assim, The Florida Project é leve em muitos momentos, por causa da perspectiva infantil que conduz a narrativa. E é isso que o torna tão especial — a beleza e a dor caminham juntas.

Com uma direção sensível, uma fotografia vibrante que contrasta com a dureza da realidade retratada, e uma atuação inesquecível de Brooklynn Prince, The Florida Project merece ser visto e sentido.

Stay é um daqueles filmes que tenta ser muito mais do que consegue entregar. O diretor Marc Forster claramente almeja algo à la David Lynch — inclusive escala Naomi Watts, como se isso por si só evocasse a genialidade de Cidade dos Sonhos. Mas ao invés de mergulharmos em um pesadelo fascinante, somos jogados em uma confusão pretensiosa que falha em praticamente todos os aspectos.

A trama começa até com alguma promessa: um estudante perturbado (Ryan Gosling) prevê sua própria morte e seu terapeuta (Ewan McGregor) tenta evitar o inevitável. Soa intrigante, mas tudo rapidamente se desmancha em uma sequência de cenas mal conectadas, cheias de transições toscas que mais confundem do que constroem atmosfera. A montagem é desastrosa — e não no sentido criativo, como nos filmes de Lynch, mas no sentido literal: parece mal feita, apressada, sem propósito.

Os enquadramentos são outro problema. Forster tenta criar uma estética “artística” com ângulos inusitados e movimentos de câmera “profundos”, mas tudo soa forçado, como se ele estivesse mais preocupado em parecer estiloso do que em contar uma história com coesão.

A duração é de uma hora e meia, mas parece uma eternidade. O ritmo é arrastado, a narrativa se perde nos próprios devaneios, e o espectador é deixado sem conexão emocional com os personagens. A única coisa que realmente funciona no filme é Ryan Gosling caminhando por aí, com cara de triste e cigarro na boca — o retrato perfeito do que o filme inteiro parece estar tentando dizer, sem nunca realmente conseguir.

No fim, Stay é uma tentativa frustrada de fazer cinema onírico e psicológico. Mas querer ser Lynch não é o mesmo que entender o que torna um filme como Cidade dos Sonhos uma obra-prima.

Conclave é um filme que mergulha nas complexas e enigmáticas engrenagens do Vaticano, com uma trama centrada na sucessão papal. O longa se destaca desde o início com uma trilha sonora envolvente, que captura com precisão o tom solene e, ao mesmo tempo, inquietante da narrativa. A fotografia é outro ponto alto: os jogos de luz e sombra criam uma atmosfera densa e misteriosa, perfeita para o ambiente de tensão e segredo que permeia o conclave. Já o figurino impressiona pela riqueza de detalhes e autenticidade, conferindo um ar de verossimilhança à ambientação e aos personagens.

Mas o grande destaque do filme é, sem dúvida, Ralph Fiennes, que entrega uma atuação poderosa e contida como o cardeal Lawrence. Ele carrega o peso do filme nos ombros com uma performance repleta de nuances, transmitindo com maestria as dúvidas morais e o conflito interno de seu personagem. Fiennes domina cada cena com uma presença magnética, elevando o nível da produção sempre que está em tela.

A trama de sucessão papal é fascinante, um verdadeiro tabuleiro de xadrez político e espiritual. O filme explora com habilidade os jogos de poder, as alianças veladas, os pecados escondidos do ado que retornam à tona, e a constante luta entre ética e conveniência. A articulação entre grupos, os bastidores das decisões e o dilema de votar contra o mal maior são tratados com uma tensão crescente, que prende a atenção do espectador.

No entanto, da metade para o final, o filme perde força. O ritmo desacelera, e o suspense que vinha sendo cuidadosamente construído começa a se dissipar. A montagem contribui para esse enfraquecimento, com cortes que muitas vezes quebram a fluidez da narrativa e desorientam o espectador. Além disso, o desfecho deixa a desejar: tanto a construção do finalquanto a forma como ele é entregue carecem de impacto e coesão. Fica a sensação de que o filme, tão promissor em sua primeira metade, não soube como encerrar sua própria história de forma satisfatória.

Apesar dos tropeços no terceiro ato, Conclave é uma obra que merece ser vista por sua estética impecável, sua atuação central brilhante e pela complexidade moral de sua trama.

Birth, dirigido com audácia por Jonathan Glazer, é um daqueles filmes que dividem opiniões, mas que ninguém esquece. Sua proposta é corajosa, desconcertante e profundamente provocadora — e é justamente isso que o torna tão fascinante. Glazer ousa tratar de temas delicados como luto, fé, amor e identidade de uma forma perturbadora, envolta em silêncio, olhares e atmosferas densas. É um filme que desafia o espectador desde o início e recompensa aqueles dispostos a mergulhar em sua estranheza.

A premissa por si só já merece aplausos: uma mulher que ainda sente a dor da perda do marido vê um garoto de dez anos aparecer dizendo ser a reencarnação dele. A partir daí, o pequeno Sean, interpretado por Cameron Bright, se torna um verdadeiro agente do caos. Tudo na vida de Anna (Nicole Kidman) parece estar finalmente entrando nos eixos — ela está noiva, reconstruindo sua vida — até que o menino aparece e planta a dúvida. E que dúvida! O mais impressionante é como a presença de Sean desestrutura não só a vida de Anna, mas a de todos ao redor dela. De forma quase silenciosa, ele vai infiltrando incerteza, desestabilizando convicções, criando rachaduras emocionais por onde escorrem sentimentos que estavam cuidadosamente selados.

O roteiro trabalha com maestria a tensão crescente. A cada cena, cresce o desconforto e a curiosidade sobre quem realmente é aquele menino. As reações dos personagens são um show à parte — a dúvida se instala de forma tão crível que até o noivo de Anna, num momento de desespero, cogita a possibilidade de que aquela criança seja, de fato, seu rival reencarnado. O embate entre razão e emoção é brilhantemente conduzido, e os diálogos com Sean, quando os adultos tentam confrontá-lo, são alguns dos momentos mais tensos e inquietantes do filme.

A virada do filme é outro ponto alto. Glazer conduz o enredo com uma sobriedade hipnotizante até desferir um golpe que o espectador dificilmente espera. É uma reviravolta que não apenas redefine o rumo da narrativa, mas também nos obriga a reinterpretar tudo o que vimos até então — e isso é cinema em sua forma mais inteligente.

E o que dizer de Nicole Kidman? Sua atuação como Anna é sutil, complexa e absolutamente envolvente. Kidman entrega uma performance contida, mas cheia de camadas, transmitindo dor, confusão, desejo e culpa com olhares e gestos mínimos. Sua presença sustenta o filme, e seu rosto na cena da ópera é, por si só, um estudo de atuação. É uma interpretação que exige do público uma leitura emocional profunda, e ela nos conduz com uma verdade desconcertante.

Birth é um filme que não dá respostas fáceis. Pelo contrário, ele convida o espectador a lidar com o incômodo, com o inexplicável. E isso, num mundo cinematográfico onde muitas vezes tudo é mastigado, é um verdadeiro presente.

David Fincher, mais uma vez, mostra por que é um mestre da direção em The Social Network. Com uma condução precisa, elegante e envolvente, Fincher transforma o que poderia ser uma simples cinebiografia sobre a criação do Facebook em um thriller dramático de primeira linha. O ritmo é tão bem calibrado que você simplesmente não sente o tempo ar — a história flui com intensidade e tensão emocional, mesmo nas cenas mais aparentemente triviais. Fincher sabe como construir e desenvolver a narrativa, costurando ado e presente com maestria e transformando códigos e cliques em drama humano de alto nível.

O roteiro de Aaron Sorkin é, sem exageros, brilhante. Adaptando o livro The Accidental Billionaires, Sorkin eleva a matéria-prima a um patamar muito mais sofisticado, com diálogos afiados, ritmo dinâmico e uma compreensão profunda dos personagens. Cada cena é carregada de subtexto, e o roteiro entende que a criação do Facebook não é apenas sobre tecnologia — é sobre poder, identidade, ego e, sobretudo, relações humanas.

Aliás, o filme reforça uma ideia pessoal que eu carrego: tudo, no fundo, é sobre uma mulher. A gênese do Facebook, segundo o filme, nasce de um impulso emocional — o término entre Mark Zuckerberg e Erica Albright. A cena é uma das melhores do filme, não apenas pela atuação inspirada de Rooney Mara, mas por como ela já estabelece quem é Mark: socialmente inepto, emocionalmente imaturo e movido por ressentimentos. É a faísca que dá início à grande revolução digital do século 21.

A escolha do elenco é impecável. Jesse Eisenberg entrega uma das melhores performances de sua carreira como Zuckerberg, misturando genialidade, frieza e insegurança com perfeição. Andrew Garfield brilha como Eduardo Saverin, o amigo traído, trazendo camadas emocionais e muita humanidade ao personagem. Já Justin Timberlake surpreende positivamente como Sean Parker — carismático, sedutor e instável, em uma das melhores escalações do filme.

O mais impactante é pensar que, ao criar o Facebook, Mark Zuckerberg jamais poderia imaginar o tamanho do poder que teria em mãos. O filme não precisa exagerar ou moralizar para deixar claro: ele criou algo que mudaria para sempre a maneira como nos relacionamos, como consumimos informação e até como votamos. O poder de influenciar a política de países não estava nos planos — mas virou realidade.

The Social Network é um retrato preciso, provocativo e afiado de uma geração obcecada por validação, influência e poder. É cinema de alto nível, com direção e roteiro que se complementam perfeitamente. Um filme essencial para entender o século XXI — e como tudo começou com um coração partido.

Striptease é um daqueles filmes que fazem você se perguntar como uma produção com tanto potencial conseguiu dar tão errado. A premissa até poderia render um bom drama cômico, sensual e ácido, mas o resultado é um amontoado de cenas absurdas, atuações risíveis e um roteiro que parece ter sido escrito no piloto automático — ou durante um delírio febril.

A única coisa que realmente presta no filme é Demi Moore, que entrega uma performance corajosa em suas danças sensuais e cenas de nudez. Ela está em forma, carismática, e tenta salvar o que pode com sua presença marcante. Infelizmente, nem toda a nudez do mundo consegue camuflar a bagunça que é o resto do longa.

O personagem David Dilbeck, interpretado por Burt Reynolds, é um dos piores já vistos no cinema. Uma mistura de nojento com patético, sua caracterização é tão exagerada que beira o constrangedor — e não no bom sentido. Reynolds até tenta dar um tom satírico à figura política decadente, mas o resultado é apenas bizarro. Seu personagem parece ter saído de uma paródia ruim, sem a menor sutileza ou propósito.

O filme é recheado de cenas inacreditáveis, no pior sentido da palavra. Situações forçadas, diálogos que beiram o ridículo e uma trama que não se decide entre a comédia escrachada e o thriller político. Nada funciona. A direção de Andrew Bergman erra o tom do começo ao fim, e o que poderia ser uma crítica mordaz aos bastidores da política e da justiça vira uma colagem de momentos sem nexo e personagens unidimensionais.

No fim das contas, Striptease poderia ter seguido por um caminho mais inteligente, ousado e até subversivo. Mas se perde na tentativa de ser sexy e engraçado, tropeçando em sua própria incompetência. Vale assistir apenas pela curiosidade — ou para ver Demi Moore dançando. Fora isso, é melhor evitar.

Esse filme é a She-Hulk da A24 pela qual Bella Swan se apaixona.

Little Women, dirigido por Greta Gerwig, é um filme belíssimo em termos visuais e cheio de boas intenções, mas que, para mim, não conseguiu criar o laço emocional que esperava. Em uma história tão centrada nas irmãs March e suas jornadas individuais, achei difícil me apegar de verdade às personagens. A única que realmente me cativou foi a Beth — como a própria Jo diz em determinado momento, ela era a melhor de todas.

Apesar da falta de conexão com as demais, reconheço o arco da Amy como um dos mais interessantes. Ela a de figurante da própria vida, constantemente ofuscada por suas irmãs, para uma mulher que sabe o que quer e conquista aquilo que sempre desejou, inclusive o amor de Laurie. Florence Pugh brilha no papel e traz nuances importantes à personagem, tornando-a tridimensional e empática, mesmo quando suas ações são questionáveis.

Saoirse Ronan também está excelente como Jo. Sua entrega emocional e intensidade são dignas de destaque, principalmente nas cenas que tratam da sua carreira como escritora e da luta para publicar sua obra. Contudo, tive sérios problemas com a construção do arco amoroso de Jo. A maneira como ela rejeita Laurie — com argumentos sólidos, diga-se de agem — e depois parece reconsiderar quando sua vida não segue como o planejado me soou forçada e problemática. Dá a impressão de que o roteiro quis recompensar o personagem masculino, mesmo que à custa da coerência da protagonista.

Emma Watson, infelizmente, destoa do restante do elenco. Enquanto o restante do time parece viver seus papéis com naturalidade e profundidade, a atuação dela parece deslocada, sem a mesma força emocional das demais.

O grande acerto do filme é a direção de Greta Gerwig. Sua escolha por uma narrativa não linear adiciona camadas à história, permitindo uma comparação rica entre as fases da vida das irmãs e o amadurecimento de cada uma. Esse recurso torna a experiência mais envolvente e menos previsível, o que é um mérito enorme em uma obra já tão conhecida e adaptada.

No fim, Little Women é um bom filme, com atuações marcantes e direção inspirada, mas que, para mim, esbarra em uma dificuldade de conexão emocional e em alguns arcos narrativos que não funcionaram tão bem.

Rio Bravo é um clássico do faroeste que acerta em diversos aspectos, especialmente na direção segura e envolvente. Gosto muito de como Howard Hawks conduz a história com calma, mas sem perder o ritmo, construindo aos poucos as interações entre os personagens e desenvolvendo relações que se tornam o coração do filme.

Os diálogos são bem escritos, e é interessante ver como os personagens vão se aproximando, criando uma sensação de companheirismo e lealdade que vai além da típica ação do gênero. Em termos visuais, há enquadramentos que realmente me chamaram atenção – como a cena do sangue caindo no copo no bar, que é impactante e carrega uma força simbólica muito grande.

O grande destaque do filme para mim é o personagem Dude. Seu arco de superação e redenção é o mais bem trabalhado da história. Ele começa como um homem quebrado, mergulhado no alcoolismo, e vai ganhando dignidade e confiança aos poucos. A atuação é sensível e convincente, e toda a trajetória dele é o que mais me envolveu no filme.

Outro ponto alto é Stumpy, o coadjuvante certeiro que rouba a cena sempre que aparece. Ele é engraçado, corajoso e carismático, e sua presença garante que a cena vai funcionar. Um alívio cômico sem ser forçado, e que também tem importância real dentro da trama.

John Wayne está muito bem como o xerife John T. Chance – ele entrega uma atuação firme, com a presença forte que se espera dele. No entanto, não me convence o romance que o roteiro tenta construir para ele. A relação amorosa parece deslocada, quase forçada, e acaba não contribuindo muito para o filme.

A história de Rio Bravo é boa, tem uma ideia sólida e é bem desenvolvida. Tudo está no lugar certo, os personagens têm seus momentos, e a tensão é construída de maneira eficaz. Mas, mesmo com todos esses pontos positivos, senti que faltou algo para me fazer embarcar 100% no filme. Talvez um envolvimento emocional maior ou algo que quebrasse mais a fórmula.

Blue Valentine é um retrato cru, sensível e devastador do amor e dos caminhos tortuosos que um relacionamento pode tomar. Dirigido por Derek Cian, o filme vai muito além de uma simples história de amor; ele se debruça sobre as camadas complexas que envolvem o afeto, o tempo, a convivência e as expectativas que cada um coloca no outro. E talvez seu maior mérito seja justamente esse: mostrar que amar nem sempre é suficiente para manter duas pessoas juntas.

A forma como o filme é contado é um de seus grandes triunfos. A alternância entre presente e ado é feita de maneira brilhante, sem jamais quebrar o ritmo ou confundir o espectador. Ao contrário, essa montagem paralela é essencial para que possamos entender a profundidade da relação entre Dean e Cindy. A construção do relacionamento deles em paralelo com a desconstrução é o que dá à narrativa sua força emocional. Cada salto temporal amplia o peso das decisões e frustrações acumuladas.

Dean, interpretado com entrega total por Ryan Gosling, é um personagem que vive intensamente a ideia de amor romântico. Ele acredita em amor à primeira vista, em ser o homem de uma mulher só — algo evidente desde o primeiro encontro com Cindy, quando bate na porta da avó dela com o rosto iluminado por uma esperança quase infantil. A atuação de Gosling é extremamente verossímil, especialmente quando aparece no presente — calvo, meio fora de forma, com um olhar cansado, mas ainda tentando desesperadamente salvar o que já se perdeu.

Do outro lado está Cindy, vivida de forma magnífica por Michelle Williams. Sua atuação é contida, mas cheia de nuances. Cindy nunca amou Dean da forma que ele a amava. Ele apareceu em um momento crítico da vida dela, ofereceu apoio, estabilidade e aceitou uma filha que não era sua. No entanto, o filme sugere com sutileza que, para ela, aquilo foi mais gratidão do que paixão verdadeira. A grande atuação de Williams faz com que sintamos sua exaustão, seu incômodo com a estagnação, e a culpa que carrega por não conseguir corresponder ao amor que recebe.

A fotografia do filme é outro ponto a ser exaltado. Os enquadramentos fechados, que muitas vezes colam a câmera nos rostos dos atores, tornam as emoções mais palpáveis. A interação entre os atores é natural ao ponto de parecer quase documental, fruto de uma direção cuidadosa e intimista. Cian constrói as cenas com sensibilidade, deixando que os silêncios e olhares falem tanto quanto os diálogos.

A relação entre Dean e Frankie, a filha, é lindamente construída em pouco tempo. A conexão entre pai e filha é evidente e torna a cena final, com Dean se afastando, extremamente emotiva. É impossível não se comover, especialmente depois de ver como ele se esforçou para ser uma figura presente e amorosa na vida da menina.

Há duas cenas que merecem destaque especial: a leveza e encanto do momento em que Dean canta e dança para Cindy na frente da loja, e a brutalidade emocional da briga no hospital. A primeira mostra o início, o encantamento, o que poderia ter sido. A segunda é o retrato do desgaste, do acúmulo de mágoas, e do momento em que o amor deixa de ser suficiente.

Os diálogos sobre amor e relacionamentos são honestos, profundos e dolorosamente reais. Dean, com seus reflexos e confissões, nos leva a refletir sobre o que significa amar alguém, sobre o que se espera e o que se entrega.

Blue Valentine é um filme que fica com você, ecoa nas suas lembranças e provoca reflexões. É duro, mas belo.

On the Waterfront, dirigido por Elia Kazan, é um dos grandes clássicos do cinema americano, trazendo uma história poderosa sobre corrupção, redenção e coragem. No centro dessa narrativa está Terry Malloy, interpretado magistralmente por Marlon Brando, em uma das atuações mais icônicas da história do cinema.

Terry começa como um mero capacho do sindicato, alguém que se beneficia das engrenagens de um sistema corrupto sem realmente compreendê-lo. No entanto, sua trajetória de transformação começa ao conhecer Edie (Eva Marie Saint). O relacionamento dos dois não é apenas um romance, mas um catalisador fundamental para a mudança de Terry. A cena no bar entre eles é um exemplo brilhante de como os diálogos são bem construídos e revelam camadas dos personagens. Brando e Saint trazem uma química genuína, tornando cada interação carregada de emoção e significado.

Outro grande destaque do filme é Karl Malden no papel do Padre Barry. Seu personagem é essencial para impulsionar a luta contra a máfia sindical, e seus discursos inflamados são momentos-chave que inspiram os trabalhadores a resistirem. Malden entrega uma atuação enérgica e comprometida, sendo a força moral do filme.

O filme também brilha ao mostrar o funcionamento da máfia dentro do sindicato, destacando como a opressão acontece de maneira sistêmica e brutal. A forma como os chefes do sindicato intimidam e silenciam aqueles que tentam se opor a eles torna a jornada de Terry ainda mais impactante.

A cena final é um verdadeiro símbolo de luta e sacrifício. O sofrimento físico de Terry e sua caminhada exausta em direção ao galpão, seguida pelos outros trabalhadores, representa a quebra do medo e a vitória do indivíduo contra o sistema opressor. É um momento forte e memorável que sintetiza a jornada do protagonista.

Nightbitch não é um filme para mim. Não sou o público-alvo — não sou mulher, não sou pai — e, por isso, não consegui me conectar com a história ou com os personagens. A jornada da protagonista, vivida por Amy Adams, simplesmente não me envolveu.

Adams se entrega completamente ao papel, isso é inegável, mas sua personagem é irritante ao extremo. As cenas em que vemos o que ela realmente queria dizer são exageradas e desconfortáveis, tirando qualquer sutileza da narrativa. Os flashbacks da mãe quebram o ritmo e adicionam pouco à trama, tornando-se apenas mais um elemento cansativo.

O marido, então, é um caso à parte. Um personagem inável e raso, um verdadeiro babaca que só contribui para tornar a experiência ainda mais frustrante. Sim, eu entendo a crítica social que o filme tenta fazer sobre maternidade e identidade, mas a execução deixa muito a desejar. O desenvolvimento é fraco, e a história não consegue sustentar sua própria proposta.

E aí chegamos ao terceiro ato, que é simplesmente horrível. A conclusão não tem impacto, não emociona, não provoca reflexão — apenas reforça a sensação de que o filme se perdeu completamente.

No fim, Nightbitch pode até funcionar para quem se identifica com a temática, mas, para mim, foi uma experiência frustrante e irritante.

Carp Diem

Dead Poets Society é um filme que cria uma atmosfera envolvente, quase mágica, em sua narrativa sobre juventude, sonhos e repressão. A ambientação do colégio interno conservador, o outono nostálgico e a trilha sonora melancólica contribuem para um clima único e imersivo. O filme transmite uma mensagem poderosa sobre liberdade de pensamento, paixão pela vida e os impactos da conformidade.

Um dos elementos mais cativantes da história é o arco de Neil Perry. Seu desenvolvimento, desde a obediência cega ao pai até sua crescente coragem para seguir sua paixão pelo teatro, é um dos pontos mais bem trabalhados do filme. O impacto das aulas do professor Keating e da criação da Sociedade dos Poetas Mortos fazem com que ele comece a se questionar e a buscar seu próprio caminho, culminando em um desfecho trágico que é construído de forma emocionalmente devastadora.

Outro destaque está na jornada de Todd Anderson, um garoto tímido que, ao longo da história, começa a encontrar sua própria voz. A cena em que ele improvisa um poema na sala de aula é uma das mais belas do filme, capturando perfeitamente o tema central de se libertar das amarras do medo e da insegurança. Já o momento final, com os alunos subindo nas carteiras em homenagem ao professor Keating, é uma cena icônica e emocionante, encerrando o filme com força simbólica.

Por outro lado, o filme falha em desenvolver algumas tramas que apresenta. A história de Knox e sua paixão por Chris é um exemplo disso. Seu entusiasmo inicial, sua coragem para se declarar e as atitudes impulsivas que ele toma são interessantes, mas o roteiro parece abandonar essa parte da narrativa sem um fechamento satisfatório. Há uma tentativa de criar um arco romântico, mas ele se perde no meio da dramaticidade da história principal.

Além disso, Dead Poets Society tem uma tendência a exagerar no tom dramático, buscando constantemente momentos emocionantes e impactantes, mas, em alguns momentos, acaba deixando o desenvolvimento de personagens e subtramas em segundo plano. Isso enfraquece um pouco a experiência geral, pois algumas relações poderiam ter sido mais bem exploradas sem a necessidade de tanto peso dramático.

No geral, Dead Poets Society é um filme inspirador, com momentos brilhantes e uma mensagem que ressoa profundamente. Apesar de suas falhas narrativas e da inclinação ao melodrama, ele entrega uma experiência cinematográfica memorável.

Criada por David Lynch e Mark Frost, Twin Peaks é uma série que transcende os limites do mistério e mergulha em um universo próprio, onde o surreal e o mundano coexistem de forma brilhante. Lynch constrói um mundo fascinante na pequena cidade de Twin Peaks, um lugar aparentemente pacato, mas repleto de segredos, figuras excêntricas e elementos sobrenaturais que dão à série sua identidade única.

O grande motor da história é a morte de Laura Palmer, uma jovem adorada pela cidade, mas que escondia um lado sombrio. Sua presença assombra cada episódio, mesmo após sua morte, tornando-se um dos elementos mais marcantes da série. O outro grande destaque é o agente Dale Cooper, um investigador metódico e intuitivo, que rapidamente se torna uma figura icônica, com sua paixão por café, tortas e sua abordagem quase espiritual para solucionar crimes.

A primeira temporada é impecável. O mistério de quem matou Laura Palmer se desdobra de forma cativante, afetando toda a cidade e revelando camadas inesperadas sobre seus habitantes. Cada personagem tem um papel no quebra-cabeça, e a série constrói um ambiente envolvente e intrigante.

Já a segunda temporada apresenta problemas. Até a revelação do assassino de Laura, a série mantém o alto nível da primeira temporada. Essa revelação, feita de forma aterradora e estilisticamente única, é algo que só David Lynch poderia entregar. No entanto, após esse momento, Twin Peaks perde força. As tramas paralelas se tornam desinteressantes, e a série se arrasta, perdendo o encanto e o impacto inicial. Só no último episódio, quando Lynch retorna ao comando, é que a série reencontra sua essência, entregando um desfecho brilhante e perturbador.

A trilha sonora de Twin Peaks merece destaque especial. Composta por Angelo Badalamenti, ela é essencial para a atmosfera da série, desde a melancolia do Laura’s Theme até as melodias oníricas que amplificam o mistério e o surrealismo. É uma trilha inesquecível, que complementa perfeitamente o universo de Twin Peaks.

Apesar da queda de qualidade na segunda temporada, Twin Peaks permanece uma obra marcante e inovadora. Seu impacto na TV e na cultura pop é inegável, e a experiência de mergulhar nesse mundo criado por Lynch ainda é única.

Sin City é um filme que tem muitos elementos interessantes, mas que poderia ter sido muito melhor se estivesse nas mãos de um diretor mais competente – e Zack Snyder teria sido a escolha perfeita. O estilo visual do filme, inspirado diretamente nos quadrinhos de Frank Miller, é o grande destaque, com uma fotografia que realmente impressiona e dá uma identidade forte à obra. No entanto, minha principal questão com o filme está na direção e na edição, que fazem com que a experiência pareça desorganizada e, em alguns momentos, sem ritmo.

O longa se estrutura em três histórias interligadas, e essa escolha narrativa é um dos acertos do filme. No entanto, nem todas as histórias funcionam igualmente bem. A de Marv, por exemplo, foi a que menos me interessou – apesar de Mickey Rourke estar bem no papel, o enredo não me prendeu e acabou sendo a parte mais fraca para mim. Por outro lado, a trama de Nancy e John Hartigan é a melhor do filme. Jessica Alba e Bruce Willis entregam boas atuações, e toda a atmosfera dessa história poderia ter sustentado o filme inteiro. Já a parte de Dwight tem seus altos e baixos, com momentos interessantes, mas também algumas cenas que não funcionam tão bem.

O grande problema de Sin City está na sua execução. A estética é excelente, mas a direção e a edição deixam a desejar. O ritmo do filme é inconsistente, algumas cenas parecem mal conduzidas, e a sensação geral é de que poderia ter sido um filme muito mais impactante. Zack Snyder, com seu estilo visual e domínio de cenas de ação, teria feito um trabalho muito mais sólido e coerente com a proposta.

No fim das contas, Sin City é um filme que vale pela fotografia e por alguns momentos isolados, mas que sofre com problemas de direção e narrativa.

"If you and I were married, I would want to give you what you need, that's all. I'm talking about taking care of each other as best you can. What's wrong with taking care of a woman? She take care of you."

Meet Joe Black é um filme que traz uma abordagem única sobre a morte e a vida, envolvendo romance, reflexões existenciais e uma atuação marcante de Brad Pitt e Anthony Hopkins.

Desde o início, o filme nos presenteia com um dos diálogos mais encantadores do cinema: a conversa entre Susan (Claire Forlani) e o personagem de Brad Pitt na lanchonete. Há uma química genuína entre os dois, um flerte sutil e elegante, e a fala dele sobre ser “um homem de uma mulher só” é uma das mais belas declarações de amor do filme. Esse momento encapsula o charme e a doçura do primeiro encontro, tornando a conexão entre os personagens ainda mais especial.

Quando a morte assume a forma humana como Joe Black, vemos uma interpretação cativante de Brad Pitt. Seu personagem experimenta o mundo com curiosidade infantil, desde os sabores da comida até os sentimentos mais complexos, como o amor. O filme acerta ao mostrar a jornada de Joe descobrindo os prazeres e emoções humanas, transmitindo uma bela mensagem sobre aproveitar as pequenas coisas da vida, perdoar e amar verdadeiramente.

Anthony Hopkins entrega uma performance brilhante como William Parrish, um homem íntegro, sábio e dono de uma inteligência afiada. Sua presença em cena é magnética, e seu relacionamento com Joe evolui de uma tensão inicial para uma cumplicidade inesperada. A cena em que os dois conseguem recuperar a empresa de William é um dos momentos mais bem construídos do filme, utilizando um elemento previamente estabelecido na trama de maneira satisfatória.

O romance entre Joe e Susan é construído com uma delicadeza ímpar. As trocas de olhares, a sedução mútua, o primeiro beijo – que Joe agradece com uma ternura singular –, e a cena de amor entre eles são momentos marcantes. É fascinante assistir a morte experimentar o prazer e o desejo pela primeira vez, tornando o relacionamento ainda mais envolvente. Claire Forlani, além de linda, entrega uma atuação suave e apaixonante, contribuindo para a química irresistível entre os protagonistas.

Se há um ponto que prejudica o filme, é sua duração excessiva. Algumas cenas se alongam mais do que o necessário, tornando a experiência um pouco cansativa em certos momentos. Um ritmo mais enxuto teria favorecido a fluidez da narrativa sem comprometer sua beleza.

No fim, Meet Joe Black é uma obra sensível, com atuações marcantes, um romance encantador e uma reflexão poderosa sobre a vida e a morte. Apesar de seu ritmo lento em algumas partes, é um filme que emociona e deixa sua marca.

Milagre na Rua 34 é um daqueles filmes perfeitos para assistir no Natal. Com uma história leve, bonita e envolvente, ele captura a essência dessa época mágica de um jeito especial. A premissa é excelente: um homem gentil e bondoso afirma ser o verdadeiro Papai Noel, e, com sua personalidade cativante, vai pouco a pouco convencendo todos ao seu redor de que isso é verdade.

O grande destaque do filme é o julgamento, que se torna um dos pontos mais brilhantes da narrativa. A ideia de decidir no tribunal se Kris Kringle é ou não o verdadeiro Papai Noel é simplesmente genial. Todas as cenas do julgamento são muito bem conduzidas, cheias de criatividade e emoção. A melhor delas, sem dúvida, é quando usam o filho do advogado da promotoria como argumento para defender Kringle, resultando em um momento emocionante e inteligente.

Além disso, o filme faz um excelente trabalho ao transmitir a mensagem natalina e toda a energia do Natal ao longo de sua duração. Ele reforça a importância da fé, da bondade e da crença na magia dessa época do ano, o que torna sua história tão especial e atemporal.

Se há um pequeno ponto que poderia ser melhor trabalhado, é a rapidez com que Doris e Susan mudam de ideia sobre Kris Kringle. Elas inicialmente são céticas, mas acabam sendo convencidas com certa facilidade, o que tira um pouco do impacto dessa transformação. Ainda assim, isso não compromete a beleza e a emoção do filme.

Com uma história encantadora, personagens cativantes e um julgamento memorável, Milagre na Rua 34 é um clássico natalino que merece ser assistido e revisitado todos os anos.

A Time to Kill é um filme que se sustenta em duas grandes forças: a questão da moralidade/justiça e a questão racial. O longa dirigido por Joel Schumacher apresenta uma história intensa e provocativa, colocando o espectador diante de um dilema moral complexo.

O filme constrói de maneira eficaz o ato de Carl Lee Hailey (Samuel L. Jackson), um pai negro que, diante da possibilidade de que os dois homens brancos que estupraram e quase mataram sua filha sejam soltos, decide fazer justiça com as próprias mãos. O roteiro conduz o público a entender e até mesmo apoiar sua decisão, pois não há qualquer garantia de que a justiça tradicional puniria os criminosos. A cidade onde se a a história é profundamente racista, e a ideia de um júri branco absolvendo dois homens brancos pelo crime contra uma menina negra é uma possibilidade assustadoramente real dentro desse contexto.

A acusação contra Carl Lee não se importa com o que aconteceu com sua filha, apenas quer puni-lo com a pena de morte, reforçando a maneira como o sistema judicial trata um homem negro que busca justiça por conta própria. A consequência de seu ato é um dos pontos mais bem trabalhados no filme: ele desencadeia o retorno da Ku Klux Klan, que começa a realizar ataques e ameaças, transformando o caso em algo muito maior do que um simples julgamento por assassinato. Ele se torna um embate racial entre brancos e negros, evidenciando as tensões profundas da sociedade americana.

O filme também faz um ótimo trabalho ao mostrar os impactos do caso na vida do advogado Jake Brigance (Matthew McConaughey), que, ao aceitar defender Carl Lee, coloca a si mesmo e sua família em perigo. A crescente pressão e as ameaças a ele e seus colegas tornam o julgamento ainda mais tenso.

Se há um ponto fraco no filme, é a personagem de Sandra Bullock, que parece perdida na trama. Sua presença não acrescenta muito à narrativa, servindo mais como um rosto bonito e um interesse amoroso problemático para Jake do que como uma peça fundamental na história.

No geral, A Time to Kill é um thriller jurídico forte e emocionalmente envolvente, que faz o espectador refletir sobre justiça, racismo e moralidade.

Cillian Murphy e suas bombas

Alien: Romulus acerta em vários aspectos, trazendo de volta o terror claustrofóbico que tornou a franquia icônica. A fotografia e o design de produção são impecáveis, criando uma ambientação opressora que contribui para a tensão constante. A interação entre Andy e os outros personagens é um dos pontos altos do filme, e sua evolução ao longo da história é bem construída. Já Rain, como protagonista, se mostra promissora e tem potencial para crescer ainda mais caso o filme receba continuações.

Outro aspecto positivo é a crítica ao capitalismo, que reforça uma temática sempre presente na franquia: a empresa não se importa com seus funcionários, colocando os interesses corporativos acima de qualquer vida humana. Isso adiciona uma camada interessante ao enredo, reforçando o tom pessimista que a saga Alien sempre carregou.

No entanto, o filme peca ao retratar os próprios xenomorfos. Aqui, eles perdem parte da imponência vista nos filmes anteriores, tornando-se mais fáceis de derrotar e menos ameaçadores. O medo e a tensão que essas criaturas costumavam causar são diluídos, o que enfraquece o impacto geral do filme. Além disso, o terceiro ato decepciona, com um final fraco que não mantém o nível da narrativa até então. A introdução do híbrido, apesar de ter um visual que remete aos engenheiros de Prometheus, não funciona bem dentro da proposta e acaba sendo uma escolha questionável.

No geral, Alien: Romulus tem boas ideias e acerta na atmosfera e nos personagens, mas falha em dar o devido peso às criaturas que dão nome à franquia. Ainda assim, vale a pena para os fãs, principalmente pelo retorno do terror espacial.

Quando criança, eu achava que elas eram gêmeas de verdade, como as irmãs Olsen.

The Outlaw Josey Wales começa de maneira um tanto apressada e pouco convincente ao estabelecer a transformação de Josey Wales. O filme nos apresenta um homem comum que, após ter sua família brutalmente assassinada, se torna um pistoleiro temido, mas essa transição não é mostrada de forma orgânica. Faltam momentos que justifiquem sua ascensão como o melhor atirador do Oeste, o que torna seu início um dos pontos mais fracos.

No entanto, o filme melhora bastante conforme a história avança, especialmente após a Guerra Civil, quando Josey se torna um foragido perseguido. O foco, porém, não está exatamente na perseguição, mas sim na jornada que ele empreende em sua fuga. A relação que ele constrói com personagens como o índio Lone Watie, a jovem índia, a velha Granny Hawkins e Laura traz camadas inesperadas à trama, tornando-a mais humana e menos apenas uma história de vingança.

As cenas de ação após a guerra são muito bem feitas, com tiroteios bem coreografados e um uso interessante da inteligência de Josey para sobreviver. A sequência no rio e a forma como ele resolve o conflito com os índios são exemplos de como o filme consegue equilibrar ação e estratégia de maneira eficaz.

O final é um dos grandes acertos da obra. Depois de uma longa jornada, o desfecho entrega um momento lindo, permitindo que Josey finalmente encontre descanso após tudo o que ou. É um encerramento que sintetiza bem o tom melancólico do filme, consolidando sua história de redenção e sobrevivência.

Apesar do começo problemático, The Outlaw Josey Wales cresce conforme avança e se torna um faroeste envolvente. Clint Eastwood, tanto na direção quanto na atuação, entrega um trabalho sólido, fazendo deste um filme que, apesar das falhas, vale a pena ser conferido.

Wim Wenders entrega em Perfect Days um filme contemplativo, guiado por uma performance excepcional de Kōji Yakusho. Ele vive Hirayama, um homem que reprime suas emoções e mecaniza sua rotina como zelador de banheiros públicos em Tóquio. A maneira como ele se prende a seus hábitos – acordando no mesmo horário, ouvindo as mesmas músicas, tirando fotos das sombras das árvores – não é apenas um reflexo de sua disciplina, mas parece uma fuga. Fuga de seus sentimentos, de seus medos, de seus sonhos que ficaram pelo caminho.

A trilha sonora é um dos grandes destaques do filme. Cada música que toca, de The House of the Rising Sun*
a Pale Blue Eyes, adiciona camadas à jornada silenciosa de Hirayama. Não há uma escolha ruim; todas as canções contribuem para a melancolia e a beleza da história. E essa beleza também está na fotografia: Tóquio nunca pareceu tão tranquila e poética, com Wenders capturando a cidade de forma minimalista e quase hipnótica.

Mas eu tenho problemas com o filme. A narrativa parece não andar em certos momentos, tornando-se repetitiva sem necessariamente aprofundar tanto assim o protagonista. A personagem Aya aparece e some sem muito impacto na história, e há questões que poderiam ser melhor exploradas, como a situação de Niko, que dá sinais de estar lidando com ansiedade. A relação de Hirayama com seu irmão e sua família também parece ser um elemento cheio de possibilidades, mas que o filme deixa de lado.

No fim, Perfect Days tem momentos belíssimos e uma atuação que carrega o filme nas costas, mas fica aquela sensação de que poderia ir além.

"You can see now ?

Yes, I can see now."

Charlie Chaplin sempre teve o dom de emocionar o público, e Luzes da Cidade talvez seja a mais bela prova disso. Com seu icônico personagem, o Vagabundo, Chaplin constrói uma história comovente sobre amizade, sacrifício e amor, equilibrando humor e emoção com maestria.

A relação entre o Vagabundo e o milionário é um dos grandes destaques do filme. O rico, apesar de todo o dinheiro, está afundado em depressão e solidão. É o Vagabundo quem, com sua compaixão e generosidade, salva sua vida e lhe oferece verdadeira amizade. No entanto, o milionário só o reconhece como amigo quando está bêbado, esquecendo-se dele na sobriedade, o que reflete como as barreiras sociais podem ser cruéis e arbitrárias.

Paralelamente, Chaplin constrói uma belíssima história de amor entre o Vagabundo e a jovem florista cega. O amor que nasce entre eles é puro e desinteressado, movido apenas pelo desejo de vê-la feliz. Para ajudá-la, o Vagabundo se submete a trabalhos difíceis, aceita até lutar em uma hilária e intensa cena de boxe, tudo para conseguir dinheiro para a cirurgia que pode restaurar sua visão. É um retrato tocante do que significa amar verdadeiramente: colocar o outro acima de si mesmo.

E então, chegamos ao desfecho – uma das cenas mais emocionantes do cinema. Quando a florista finalmente vê o Vagabundo, agora um homem abatido e sem nada, ela o reconhece não pelo que ele parece ser, mas pelo que ele fez por ela. A expressão de Chaplin nesse momento diz tudo, sem precisar de palavras. É o triunfo do amor e da bondade sobre as aparências e as convenções sociais.

Com Luzes da Cidade, Chaplin não apenas reafirma seu talento como cineasta e contador de histórias, mas também entrega uma obra-prima que permanece atemporal. É um filme que faz rir, chorar e refletir sobre o que realmente importa na vida.

Alfred Hitchcock entrega em Notorious um elegante e tenso thriller romântico que se destaca pela impecável química entre Cary Grant e Ingrid Bergman. Grant está charmoso como sempre, interpretando um agente frio, mas irresistível, enquanto Bergman brilha em um papel complexo, trazendo uma vulnerabilidade que só intensifica a conexão entre os dois. Cada olhar e cada diálogo entre eles carregam um peso emocional que torna o romance do filme ainda mais envolvente.

Hitchcock, mestre do suspense, demonstra mais uma vez sua habilidade na direção, conduzindo a narrativa com precisão e construindo tensão de forma gradual. A cena na adega é um espetáculo à parte, demonstrando seu talento em transformar um simples momento em algo eletrizante. Além disso, ele sabe exatamente quando encerrar o filme, sem se estender além do necessário, garantindo um final marcante e impactante.

Outro ponto interessante é a ambientação no Rio de Janeiro da época, algo que Hollywood nem sempre acerta, mas que aqui funciona bem. É bom ver o Brasil sendo bem retratado, com um charme que complementa a atmosfera sofisticada da trama.

Se há algo que poderia ter sido melhor explorado, é a parte política do filme. O envolvimento com nazistas no pós-guerra e os elementos conspiratórios são intrigantes, mas acabam ficando em segundo plano diante do romance e do suspense. Um desenvolvimento maior desse aspecto poderia ter dado ainda mais profundidade à trama.

No geral, Notorious é um thriller romântico sofisticado e bem conduzido, com atuações impecáveis e uma direção afiada. Poderia aprofundar melhor certos temas, mas ainda assim é um filme envolvente e visualmente elegante.

A cena inicial de Antichrist é um verdadeiro espetáculo visual, ao mesmo tempo bela e aterrorizante. A câmera lenta, a trilha sonora operística e a fotografia impecável criam um impacto emocional imediato, quase hipnótico. É uma sequência que, isoladamente, já poderia ser considerada uma obra-prima, capturando o horror e a poesia de maneira singular.

Porém, à medida que o filme avança, senti que ele foi perdendo força. Em vez de se aprofundar em sua temática de luto, culpa e desejo destrutivo, ele parece optar por um caminho que privilegia o choque pelo choque. As cenas violentas e brutais, ao invés de me envolverem na jornada dos personagens, acabaram me distanciando. Em diversos momentos, tive a sensação de que Lars von Trier estava mais interessado em provocar desconforto do que em desenvolver sua narrativa de forma coesa.

Talvez Antichrist tenha uma profundidade simbólica que simplesmente não consegui ar, mas, para mim, a experiência ficou apenas no incômodo, sem que houvesse um impacto emocional ou reflexivo verdadeiro.

1. The Dark Knight
2. Oppenheimer
3. Inception
4. Batman Begins
5. 28 Days Later
6. The Dark Knight Rises
7. Sunshine
8. Red Lights

1. Civil War
2. Priscilla
3. Alien: Romulus

1. Some Like It Hot
2. Watchmen
3. Braveheart
4. High Fidelity
5. Nights of Cabiria
6. Belfast
7. Indecent Proposal
8. Starship Troopers
9. Pride & Prejudice
10. Moonstruck

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1. Teen Titans Go! To the Movies
2. Face/Off
3. The Rock
4. Lord of War
5. Moonstruck
6. Wild at Heart
7. Bringing Out the Dead

1. Fatal Attraction
2. Indecent Proposal
3. Lolita
4. Deep Water
5. Unfaithful

Lista ranqueada dos filmes do diretor e ator Clint Eastwood

1. Unforgiven
2. The Good, the Bad and the Ugly
3. Million Dollar Baby
4. Dirty Harry
5. Gran Torino
6. Mystic River
7. The Bridges of Madison County
8. Pale Rider
9. Escape from Alcatraz
10. For a Few Dollars More

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Lista ranqueada dos filmes da atriz Carey Mulligan

1. Drive
2. Shame
3. Promising Young Woman
4. The Great Gatsby
5. Pride & Prejudice
6. Maestro
7. Far from the Madding Crowd
8. Saltburn
9. Never Let Me Go

1. Some Like It Hot
2. Sunset Boulevard
3. Witness for the Prosecution
4. One, Two, Three

Lista ranqueada dos filmes do diretor Martin Scorsese

1. Taxi Driver
2. After Hours
3. The Wolf of Wall Street
4. GoodFellas
5. Mean Streets
6. Alice Doesn't Live Here Anymore
7. The Irishman
8. Raging Bull
9. Casino
10. Cape Fear

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Lista ranqueada dos filmes do diretor Zack Snyder

1. Watchmen
2. Zack Snyder's Justice League
3. Batman v Superman: Dawn of Justice
4. 300
5. Man of Steel
6. Dawn of the Dead
7. Sucker Punch
8. Army of the Dead

Todos os filmes da DC lançados desde o Superman

1. Joker
2. The Dark Knight
3. Watchmen
4. The Batman
5. Zack Snyder's Justice League
6. Batman v Superman: Dawn of Justice
7. Wonder Woman
8. Batman Returns
9. The Dark Knight Rises
10. Batman Begins

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1. Total Recall
2. RoboCop
3. Starship Troopers
4. Benedetta

1. Blue Valentine
2. Melancholia
3. Birth
4. The Social Network
5. Conclave
6. Rio Bravo
7. The Florida Project
8. Little Women
9. Tie Me Up! Tie Me Down!
10. K-PAX

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1. Melancholia
2. Breaking the Waves
3. Nymphomaniac: Vol. I
4. Antichrist

1. The Skin I Live In
2. Live Flesh
3. All About My Mother
4. Tie Me Up! Tie Me Down!

1. Dragon Ball Z: The World's Strongest
2. Dragon Ball Z: Dead Zone
3. Dragon Ball Z: The Tree of Might

Lista ranqueada dos filmes do Ryan Gosling

1. Lars and the Real Girl
2. Blue Valentine
3. Drive
4. Blade Runner 2049
5. Crazy, Stupid, Love.
6. La La Land
7. The Place Beyond the Pines
8. The Fall Guy
9. The Big Short
10. Fracture

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1. Eyes Wide Shut
2. Birth
3. The Others
4. The Killing of a Sacred Deer
5. The Northman
6. Moulin Rouge!
7. Panic Room
8. Aquaman
9. Batman Forever
10. The Invasion

Lista ranqueada dos filmes do David Fincher

1. Se7en
2. Gone Girl
3. The Game
4. Zodiac
5. The Social Network
6. The Girl with the Dragon Tattoo
7. Fight Club
8. Panic Room
9. Mank
10. Alien³

1. Oppenheimer
2. Dune: Part Two
3. Midsommar
4. Little Women
5. Don't Worry Darling

1. Interstellar
2. Dune: Part Two
3. Dune
4. Little Women

1. City Lights
2. Miracle on 34th Street
3. On the Waterfront
4. The Outlaw Josey Wales
5. A Time to Kill
6. Notorious
7. Dead Poets Society
8. Meet Joe Black
9. Perfect Days
10. Alien: Romulus

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1. Before Sunrise
2. Before Sunset
3. Before Midnight
4. Boyhood
5. Before the Devil Knows You're Dead
6. Training Day
7. The Northman
8. Predestination
9. Dead Poets Society
10. Lord of War

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Lista ranqueada de filmes do ator Brad Pitt

1. Se7en
2. Twelve Monkeys
3. Thelma & Louise
4. Once Upon a Time... in Hollywood
5. Inglourious Basterds
6. Ad Astra
7. The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford
8. Fight Club
9. The Tree of Life
10. Meet Joe Black

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Lista ranqueadas dos filmes da franquia Alien

1. Alien
2. Aliens
3. Alien: Romulus
4. Prometheus
5. Alien: Covenant
6. Alien³
7. Alien Resurrection

Lista ranqueada dos filmes do diretor Alfred Hitchcock

1. Strangers on a Train
2. Psycho
3. North by Northwest
4. Rear Window
5. Dial M for Murder
6. I Confess
7. Rope
8. Vertigo
9. Notorious

1. Poor Things
2. Platoon
3. Spider-Man 2
4. Zack Snyder's Justice League
5. The Lighthouse
6. Spider-Man
7. The Northman
8. Kinds of Kindness
9. Inside Man
10. The Last Temptation of Christ

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1. The Elephant Man
2. In the Mood for Love
3. The Straight Story
4. Twin Peaks: Fire Walk with Me
5. Vertigo
6. High Plains Drifter
7. Inland Empire
8. Dragon Ball Z: The World's Strongest
9. 3:10 to Yuma
10. The Misfits

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1. Poor Things
2. Once Upon a Time... in Hollywood
3. The Substance
4. Kinds of Kindness
5. Novitiate

1. The Dark Knight
2. The Fighter
3. The Prestige
4. Batman Begins
5. Velvet Goldmine
6. The Dark Knight Rises
7. 3:10 to Yuma
8. Ford v Ferrari
9. Public Enemies

1. Mulholland Drive
2. The Elephant Man
3. Blue Velvet
4. The Straight Story
5. Twin Peaks: Fire Walk with Me
6. Lost Highway
7. Inland Empire
8. Eraserhead
9. Wild at Heart
10. Dune

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1. Rear Window
2. It's a Wonderful Life
3. Rope
4. Vertigo

Lista ranqueada dos filmes da atriz Mia Goth

1. Pearl
2. X
3. Suspiria
4. Infinity Pool
5. MaXXXine

1. Lars and the Real Girl
2. Sunrise: A Song of Two Humans
3. Lost Highway
4. A Fistful of Dollars
5. Anora
6. Nosferatu
7. Butch Cassidy and the Sundance Kid
8. Eraserhead
9. The Age of Innocence
10. Four Weddings and a Funeral

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1. The Good, the Bad and the Ugly
2. For a Few Dollars More
3. A Fistful of Dollars
4. Once Upon a Time in America

1. Heat
2. Collateral
3. Public Enemies
4. The Last of the Mohicans

Lista ranqueada dos filmes do ator Tom Cruise

1. Eyes Wide Shut
2. Magnolia
3. Top Gun: Maverick
4. Vanilla Sky
5. A Few Good Men
6. Rain Man
7. Mission: Impossible II
8. Jack Reacher
9. Mission: Impossible – Dead Reckoning
10. Collateral

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Lista ranqueada dos filmes do diretor Robert Eggers

1. The Witch
2. The Lighthouse
3. The Northman
4. Nosferatu

1. Sunset Boulevard
2. Challengers
3. Schindler's List
4. For a Few Dollars More
5. Juror #2
6. Kramer vs. Kramer
7. Alice Doesn't Live Here Anymore
8. A Wolf at the Door
9. Misery
10. American History X

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Os melhores filmes vistos em 2024

1. The Good, the Bad and the Ugly
2. After Hours
3. Mulholland Drive
4. 12 Angry Men
5. Poor Things
6. Rear Window
7. Midnight in Paris
8. Sunset Boulevard
9. Hit Man
10. Challengers

1. Aftersun
2. All of Us Strangers
3. Foe

Lista ranqueada dos filmes do ator Leonardo Dicaprio

1. The Wolf of Wall Street
2. Inception
3. Once Upon a Time... in Hollywood
4. Killers of the Flower Moon
5. The Great Gatsby
6. The Beach
7. Gangs of New York
8. J. Edgar
9. The Quick and the Dead
10. The Revenant

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1. City of God
2. The Man Who Copied
3. A Wolf at the Door
4. Bingo: The King of the Mornings
5. The Hijacking of Flight 375
6. Two Rabbits
7. The Girl Who Killed Her Parents

1. The Silence of the Lambs
2. Spider-Man 2
3. Rope
4. Bram Stoker's Dracula
5. The Substance
6. Dogtooth
7. Kinds of Kindness
8. The Taking of Pelham One Two Three
9. The Tree of Life
10. Raging Bull

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1. Knives Out
2. Blade Runner 2049
3. Deep Water
4. No Time to Die

Lista ranqueada dos filmes da franquia 007

1. Casino Royale
2. From Russia with Love
3. On Her Majesty's Secret Service
4. Live and Let Die
5. Goldfinger
6. Skyfall
7. Licence to Kill
8. The Living Daylights
9. The Spy Who Loved Me
10. Thunderball

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1. The Godfather
2. The Godfather Part II
3. Bram Stoker's Dracula
4. The Godfather Part III

Lista ranqueada dos filmes do ator Joaquin Phoenix

1. Joker
2. Walk the Line
3. You Were Never Really Here
4. Two Lovers
5. Gladiator
6. C'mon C'mon
7. The Village
8. We Own the Night
9. The Master
10. Her

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Lista ranqueada dos filmes do diretor Yorgos Lanthimos

1. Poor Things
2. The Favourite
3. The Lobster
4. Dogtooth
5. The Killing of a Sacred Deer
6. Kinds of Kindness

Lista ranqueada dos filmes da atriz Emma Stone

1. Poor Things
2. The Favourite
3. Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance)
4. La La Land
5. Kinds of Kindness
6. Gangster Squad