4v291o
Eu gostei de ver esse filme do Diretor Bong, me fez pensar em alguma coisa correlacionada: a representação via Hollywood da figura do “presidente dos Estados Unidos da América”. Historicamente, o presidente é figura respeitável de filme americano, personagem nobre, altivo, carismático, aquela pessoa com terno impecável sendo informada de que o mundo está prestes a acabar e tomando a posição de líder. Acho que é a visão desejada de um presidente, o herói justo. Como seria num futuro próximo a imagem do presidente dos EUA depois do desastre já histórico de D Trump como modelo de homem e de líder do “free world”? Teremos comédias e filmes de fantasia com presidentes americanos totalmente estúpidos? Kubrick fez algo vizinho em Dr. Strangelove, mas não era um cretino, apenas um burro. Eu lembro de filmes de meteoro batendo na Terra, Henry Fonda em Meteoro (1979), Morgan Freeman em Deep Impact, Kevin Kline e Michael Douglas em filmes que eu nem lembro o nome, líderes cheios de charme, Bill Pullman em Independence Day, elegante e honesto, Pullman, heróico ator de Lost Highway, matando texto bocó na mão e às tapas. Harrison Ford, Air Force One, “get off my plane!”. Mickey 17 me fez pensar nisso, na figura de um
novo typo de presidente dos Estados Unidos da América. Para além dos comentários afiados sobre o valor da vida humana, a impressora de vida, o descarte industrial, o colonialismo assassino, a figura do líder bruto, mal, egoísta e pateta nojento combina tão bem com o que se a hoje nos EUA. Robert Pattinson me lembrou seu filme com Claire Denis, aquela nave talvez tenha ado perto. Eu iro Bong pegar tanto dinheiro da Warner e dar uma boa dedada a todas e todos, em inglês e na moeda do dólar, onde a sexualidade não é evitada como imagem e como conversa. E gostei do Robert Pattinson, adorei a capacidade de diferenciar Mickey 17 de Mickey 18, e o batom é sensacional, e aquela garota chefona e crível. O filme do Bong Joon Ho me lembrou visões adas da fantasia e da ficção científica mediadas por Paul Verhoeven onde uma ideia palpável de diversidade humana era apresentada com naturalidade e até mesmo elemento de época futura.
Cine star Cubix Berlim. Em D
]]>Eu fui mostrar para meus filhos, 27 anos depois de ver na semana de lançamento no multiplex da UCI Boa Viagem, Recife. Na época, era novo em folha, ainda usavam as molduras mecânicas da tela e o som DTS era sensacional.
Esse estilo Marreta-Cirúrgica de M Bay é impressionante se você conseguir superar o enjoo do excesso. É Cinema, mas a
Movimentação e Cinergia são também às de uma publicidade dourada da Coca Cola. Nada de novo aí.
A naturalidade arrogante com a qual Bay filma o excepcionalismo caro dos EUA como produtor audiovisual e centro auto proclamado do mundo faz do seu cinema uma gosma dura de engolir, mas fica o espanto com a segurança arrogante de uma Hollywood que, finalmente, filma e vende alguma verdade.
Figurantes na França, na Turquia, na Índia, todos submissos ao redor de televisões vendo Armageddon. Um dos meus filhos, num certo momento, exclamou “os EUA tão se achando, vixe…”. Muito divertido, e um instrumento instrutivo sobre os EUA como sociedade de sonhos masculinos bancados pelo excesso. O filme é muito atual, inclusive pelo seu QI baixo. iro.
Disney, HD, 5.1.
]]>Gostei de ver esse filme, tem prazer da mis-en scene, dos atores tão bons numa restauração da cultura nos EUA dos anos 60. Foi um prazer ver A Complete Unknown. Engraçado que eu tive um outro tipo de prazer vendo aquele filme do Todd Haynes, I’m not There, os dois unidos por visões de Dylan.
O biopic de artista e músico como produto de cinema mexe comigo porque o acordo entre os bio-filmes e mim mesmo é claro. Estabelecer uma conexão entre a carga emotiva que a criação artística (a música de Bob Dylan, nesse caso) tem na vida e a forma como um filme irá transformar isso numa contação de historinha. O espaço para uma bagaceira inável é grande, e biopics ruins são muitos. Mas há prazer em estoque para os biopics que não são ruins.
Eu não sei bem se teria sido possível entrar na cabeça de Dylan, o filme felizmente não faz isso. Mas T Chalamet (gosto dele) tem presença e a química dele com os cenários e locações em Nova York e Nova Jersey é boa. Seu Dylan me pareceu correto, misterioso, algo cretino, carismático.
O filme é todo muito bem filmado.
Eu gostei do som desse filme. Uma boa parte da duração, a mixagem tem a lógica folk do Freewheelin’ Bob Dylan, e depois a massa e o peso do som aumenta quando ele adota a banda com guitarra, bateria, teclado. Que mixagem suave... Elle Fanning, Monica Barbaro bem boas como Sylvie e J Baez, e também muito bom Edward Norton como Pete Seeger, personagem que me fascinou no filme. Um fã paterno, um agitador da Cultura, catalisador de ideias.
Academy Screening Room UHD 5.1
]]>É gostoso de ver, o ator Isaac Amendoim comanda atenção natural, sem tic de ator mirim. Seu Chico Bento segura o filme, adaptado dos desenhos de/da Maurício de Souza. Parabéns a todos os envolvidos, Frahia faz coisas bem boas. Último plano é massa, a sala lotada do Cinemark aplaudiu naturalmente. Achei engraçado a turma do bem (agricultura familiar) enfrentar o vilão (um bolsonarista com filho literalmente agro-boy) que quer asfaltar tudo. Minha sessão na sala 6 estava com o som cochichado, mérito do filme a plateia de tanta criança ter se calado para ouvir melhor. Meus amigas e amigos, eu adoro ir ao cinema, mas eu desanimo quando a imagem tá ok e o som está BAIXO. O som baixo é a sabotagem do filme, é a subtração da sua força, e o espectador não irá reagir ao filme como poderia se a apresentação estivesse correta. Engraçado é que raras vezes, o excesso também acontece, você ver um filme fazendo careta de tão alto. Mas a sensação não é de sabotagem, mas de um misto de orgulho sem noção com incompetência.
D, Cinemark.
]]>ANORA, de Sean Baker. Um dos melhores filmes que tive a grande sorte de ver nesses tempos. Parece ter espaço para ser vendido como uma “história de amor”, um “conto de fadas”, mas é sobre Poder. Tem visão de mundo que me agrada bastante, tem empatia, não é cinico, é um filme dos Estados Unidos que me pareceu falar com propriedade sobre o mundo, sobre a Rússia. A família do pombinho apaixonado me pareceu totalmente crível e realista, mas o guarda-costas do grande ator Yura Borisov é o que ajuda essa história a ar de uma linha tênue que separa o bom do especial. Mikey Madison, um rosto marcante, num filme sobre um mundo de oligarcas, assunto presente essa semana nas imagens sombrias da posse de Trump 2.0. Está estreando no Brasil.
PS: 2 planos de cinefilia aplicada que achei muito interessantes. O elevado de THE FRENCH CONNECTION, não sei se no Brooklyn ou em Queens, filmado com ângulos especiais e as cores de Friedkin pelo pára-brisa de um carro, que prazer de imagem.
Academy Screening Room, UHD 5.1
]]>Quando eu vi o filme em Veneza me ocorreu algo. O menino de Birth do Glazer cresceu e foi parar em Babygirl. Respeito por Kidman.
Veneza, Agosto ‘24.
]]>Meu primeiro filme visto no cinema em 2025. Há dois rostos de enorme Drama para a lente: Giulietta Masina e Anthony Quinn. Ela parece representar uma fonte esgotável de delicadeza, e ele a grosseria da dureza em pessoa. Os dois são artistas que viajam num veículo triciclo peculiar, provável espólio americano na Itália do pós guerra. Uma micro caravana. Eu não vejo A Estrada como um “filme de circo” porque eu gosto dele. E também porque seja lá que “magia do circo” existe aqui, ela vem do artista como trabalhador que tenta não ar forme e frio. Não é um “filme de circo” sobre a magia do mesmo. É um filme dos planos sublimes em preto e branco 1.37:1 dos rostos e corpos de Giulieta e Quinn. Me perguntava vendo o filme, qual o apelo de um filme tão triste e desesperançoso, me pareceu que é mesmo a união no quadro desses dois atores. Não são comuns esses dois em A Estrada. Um grande Fellini.
Cópia nova 4K. D UGC Talence
]]>(Escritos achados de Cannes 2010)
Jean Luc Godard, muito aguardado, cancelou sua vinda a Cannes, onde faria concorrida coletiva de imprensa hoje. SO jornal Liberation publicou o que seria o conteúdo do bilhete manuscrito que enviou a Thierry Fremaux para dar suas satisfações:
"Depois de problemas de tipo grego, nao vou poder estar no festival. Com Cannes, vou até a morte, mas nao darei mais um o que seja pra frente."
Seu filme, no entanto, ou, chama-se Film Socialisme (Un Certain Regard), prova de que quem já fez tanto pelo cinema, pode fazer mesmo qualquer coisa. O cancelamento de sua vinda ao festival parece casar perfeitamente com as palavras que fecham o filme: ‘No Comment’.
Os ses têm uma expressão muito boa para mostrar ceticismo, espanto, descrença e alguma interjeição de absurdo: “n'importe quoi”. Film Socialisme foi o mais benvindo ‘n'importe quoi!’ de Cannes até agora, uma nova variação dos fluxos de idéias e pensamentos que observamos na obra recente de Godard, uma mutação da sua capacidade de expressar-se por imagens, já há 50 anos.
Chama a atenção que seja tão textualmente um livro ilustrado de poesias, falado em francês, russo, algumas frases em inglês. Nada em Film Socialisme parece pré-formatado, e isso nos remete a uma das frases de Godard incluídas no material de imprensa. “Mesmo com Final Cut (ed: programa de edição da Apple, usado até para editar os video-posts aqui do blog), o mais humilde ou mais arrogante dos montadores estará preso às convenções do ado e do futuro”.
Estamos num transatlântico, onde o filme bate bola formal com o outro ensaio que é o filme pernambucano Pacific, de Marcelo Pedroso, imagens de um deslocamento burguês filmadas com pequenas câmeras digitais.
A água do mar convida pensamentos, que são reprocessados nas legendas em inglês como obras à parte, redefinindo o papel da legenda e provavelmente irritando os que não ouvem o francês. A legenda deixa de ser um instrumento e vira obra, e eu adorei isso. Talvez adorasse da mesma forma se não entendesse francês. É como se as letras subtituladas finalmente ganhassem liberdade de ser outra coisa, não submissas à fala, mas paralelas ao filme.
Outra referencia é Um Filme Falado, de Manoel de Oliveira, também num transatlântico que se desloca pelo tempo. Godard sobrepõe seus temas como irmãos antagonistas, em geral usando curtas frases: Palestina: o negado, pobre Europa, humilhada pela Liberdade, Hollywood Meca do Cinema, Tumulo do Profeta, o sol e a morte a gente não olha de frente (o que me leva ao filme do Iñarritu, visto momentos antes).
É um fluxo digital, uma corrente de idéias que no todo irá sempre levar alguns a perder a paciência, e outros a sentir um prazer sereno nessa massa caótica.
Num dos momentos do filme, a voz de Godard é ouvida: “CinemaScope”, e corrigida por uma criança, “Não, 16X9”. Talvez defina a relação absolutamente moderna desse chato fascinante, que aos 79 anos continua se revendo dentro da própria imagem, mudando com ela. Ou melhor, desejando que ela evolua.
Filme visto na Debussy, Cannes, 17 Maio 2010
]]>Por uma dessas coincidências, dois filmes que estréiam hoje trazem essencialmente o mesmo tema, mas em registros bem diferentes. O tema é os EUA pós-11 de setembro aos poucos abrindo-se para o elemento estrangeiro, algo que talvez soe como uma redução adequada para o já pequeno O Visitante (The Visitor), mas uma imposição limitada que nem começa a fazer justiça à demonstração de delicadeza autoral que é Gran Torino (2008), de Clint Eastwood. Nos dois filmes, homens americanos maduros se abrem para o mundo, e para si mesmos, através do contato aproximado com cidadãos de aporte, língua e cultura estrangeiras.
O mais novo exemplar da filmoteca Eastwood chega há menos de dois meses do lançamento nos cinemas do seu último filme, o melodrama da Universal estilo anos 30, A Troca, um filme que eu já chamei aqui de obeso, mas que me agrada em muito.
Aos 78 anos de idade, Eastwood continua impressionando como um caso especial no cinema (já está filmando o próximo, The Human Factor), e Gran Torino ainda nos oferece o trabalho de um autor que não apenas narra bem e levemente, mas registra o tema do envelhecimento de forma totalmente coerente com a sua própria trajetória. Ele dá a sua cara a esse tema.
Eastwood, que abre seu filme com um enterro e um batizado, já vem abordando a agem do tempo sobre o corpo e a aproximação da morte desde que ou dos 60, na época de Os Imperdoáveis (1992), algo desdobrado de maneira inusitada em Cowboys do Espaço (1999), para citar apenas dois.
Isso de um astro hollywoodiano que viu-se no auge da sua popularidade no final dos anos 60 e início dos 70. É fato que em 1972/1973, aos 42 anos, Eastwood atingiu o auge como astro de maior bilheteria em Hollywood via filmes como O Perseguidor Implacável (Dirty Harry, 1971), de Don Siegel, seu mentor, alguns anos depois da sua fase spaghetti western com Sergio Leone, seu outro mentor.
É impossível não associar essa época ao ano de fabricação (1972) do Ford modelo Gran Torino estacionado na garagem de Walt Kowalski, o velho ranzinza que Eastwood interpreta de coração nesse novo filme. O Gran Torino verde de estado impecável parece uma espécie de troféu automotivo de um outro tempo, símbolo vivo de uma juventude americana que já se foi para esse velho resmungão que não agüenta a família nem os vizinhos.
Noções de correção política ainda não chegaram na casa desse viúvo, que detesta ver sua vizinhança tomada por “japas”, na verdade integrantes da comunidade Hmong, povo que os EUA herdaram depois da Guerra do Vietnã. Walt guarda ainda memórias duras da Guerra da Coréia, onde lutou muito jovem.
Ele irá se envolver com os seus vizinhos depois que Thao (Bee Vang), garoto adolescente, é levado a tentar roubar o Gran Torino pressionado por uma gangue de jovens Hmong que querem tomá-lo para o mau caminho. Com a participação da irmã mais velha de Thao, Sue (Ahney Her), há uma engraçada (e encantadora) aproximação do velho racista americano com os seus vizinhos, obstáculos que começam a ser superados não só através de uma conversa muito humana, mas também via comida e uísque de arroz.
A união inusitada de um homem de 78 anos com adolescentes inteligentes emocionalmente talvez expliquem o enorme sucesso do filme nas bilheterias (na verdade, a maior arrecadação de Eastwood em mais de 50 anos de carreira).
Gran Torino parece ter um apelo que vai de A a Z, mostrando com grande delicadeza que a união de mundos diferentes (jovens e velhos, nativos e estrangeiros) é sempre uma aventura humana sem igual. A naturalidade dessa aventura é um dos aspectos mais cativantes de Gran Torino, que mostra naturalmente a troca entre os que seriam diferentes, um espelho importante de cinema para uma cultura, a americana, que sempre trata o "estrangeiro" como algo que deve ser incompreendido.
Em outros níveis, Gran Torino é também um acréscimo maravilhoso à já citada filmoteca Eastwood. Há desdobramentos violentos no filme que não devem ser revelados, mas que reprocessam de forma consciente a imagem cinematográfica de um ator que interpretou muitas vezes a força bruta armada como reação à violência do homem.
Bem longe de filmar mais um filme da série Dirty Harry, com o personagem perseguindo bandidos aos 80 anos e gerando constrangimento, Gran Torino nos dá um sentido agudo de realidade. Algumas vezes nesse filme, vemos Walt/Eastwood já incerto do seu corpo, dentes cerrados, apontando um revólver fantasma com o dedo indicador como cano em direção aos que mereceriam, em outros tempos, morrer. Uma das imagens do ano.
Filme visto no Plaza Casa Forte Kinoplex, Recife, Março 2009
]]>O bregueço é carismático, Cynthia Érivo tem um rosto espetacular. Eu tô devorando aos poucos o livro City of Nets de Otto Friedrich, sobre a história de Hollywood, eu estava totalmente no mood de ver esse filme. Tem mais de 100 anos de Hollywood ali na tela, mas já com um tom meio desagradável do que eu acredito ser Glee ou seja lá que TV moderna ela é. De toda forma, achei que a imagem da bruxa vem sendo revista de maneira muito interessante no filme, sendo ela verde e preta e inteligente e carismática e mágica, a fadinha branca de Balneário Camboriú a coadjuvante que não merecia estar tão junto tanto a não ser que elas sejam um casal de afeiçoes não explicitadas. O uso de lentes Panavision vintage com aquelas maravilhosas distorções laterais me levaram diretamente para uma imagem de Hollywood que é tão clássica quanto moderna. Também achei bem boa a forma de filmar estúdio físico sem aquele
maldito look fundo CGI de filme de boneco, mais próximo do que foi realizado no The Wizard of Oz. Me lembrei do estranhíssimo The Wiz (1978), do Lumet com Diana Ross e Michael Jackson, quero rever agora (tenho o DVD). Wicked é bem longo, me ajudou a resolver umas fórmulas de montagem do meu próprio filme novo. Minhas crianças aplaudiram no final, achei bonito.
D UGC Talence numa daquelas malditas telas de televisão 1.85:1.
]]>JUROR No.2, muito bom filme de Clint Eastwood, 94 anos de idade, há mais de 50 anos trabalhando com e para a Warner Bros., que preferiu não exibir o filme nos cinemas do Brasil e dar um tratamento de desrespeito num minúsculo lançamento nos EUA mandando logo para o streaming. Na França, está nos cinemas já na 9a semana em cartaz. Quais as chances de um autor de 94 anos fazer um ótimo filme e o estúdio engavetar a coisa na maior parte dos países? Curioso. Achei bom quando Nolan, apoiado e bancado pela Warner, durante anos pegou a trouxa e foi fazer Oppenheimer na Universal (resultando em Oscars e um bilhão de bilheteria) depois que a Warner deu descarga em Tenet direto no streaming. Esses profissionais do varejo não entendem de Cinema e precisam receber uma aula amarga de como o Cinema funciona. Anyway… Eu senti nesse filme o que sentia vendo um Manoel de oliveira nos últimos 15 anos dele, a sensação de que estava vendo algo sem igual, feito pelo próprio ado. As sensações do Oliveira eu também havia sentido no Pale Rider quase 40 anos atrás, no Unforgiven, no que os anos foram avançando ainda mais, no Million Dollar Baby, no Changelling e no Gran Torino. Os filmes de um grande autor masculino, feito com madeira de lei. Não se faz mais um Juror No2 hoje, há um sentido evidente de Cinema, de clareza, aspectos que podem ser confundidos bizarramente com algum tipo de incompetência. Eu entendo os que ficam confusos. O filme é muito muito bom.
Academy Screening Room, HD 5.1.
]]>Meu Feliz Natal foi também vendo Nosferatu no dia da estreia. Me espanta que uma mesma história tenha gerado 4 obras de cinema que não são medíocres ou esquecíveis - e ao longo de um século inteiro - via Murnau, Herzog, Coppola e agora essa de Eggers. Gostei muito desse novo.
Lembrei de quando vi Drácula de Bram Stoker de Coppola numa pré estreia em 1992, não gostei na época mas os anos se aram e redescobri o filme, que já naquela pré estreia parecia ter sido feito à mão. Mesma coisa com esse.
O sentido de um mal todo poderoso e como isso foi filmado e narrado é algo que me impressionou neste. Esse assunto não sai de moda, infelizmente.
PS: eu lembrei de uma história da época em que vi The Witch, que gostei bastante. Acho que essa lembrança diz muito sobre detalhes nos filmes, e como a gente escaneia a imagem se for o caso de você estar em sintonia focada com o filme na sua frente. Eu tinha acabado de chegar no aeroporto em Sydney, Austrália, acho que no ano de Aquarius. O carro do festival estava me esperando e junto estava um cineasta do Texas que também tinha acabado de chegar de um vôo de 17 horas de duração. A caminho do hotel, nós conversamos e descobri que ele tinha origem numa comunidade indígena no Texas, ou talvez em Oklahoma. Falamos sobre filmes e chegamos em The Witch quando eu lembrei de uma coisa, criei coragem de mencionar, acho que depois de 14 horas de vôo e 30 de viagem as lembranças de Cinema ficam mais aguçadas. Tem uma cena no filme, logo no início, onde vemos o assentamento de colonos, uma vila movimentada, onde ao fundo andando estão dois ou três indígenas, que de repente olham para trás, parecem olhar para a câmera ou para a personagem principal. O colega se espantou e disse que esse exato momento também o chamou a atenção e fez ele respeitar o filme todo. Achei sensacional porquê havia criado coragem para lhe perguntar sobre o filme (que não é sobre personagens indígenas ou uma exploração narrativa sobre identidade de povos originários) baseado naquela imagem muito incomum dos homens ao fundo, olhando em direção à câmera. Falamos sobre The Witch um pouco mais e desejei a ele um bom festival, achando que conversaríamos mais nos próximos dias. Não vi mais esse cara, nem lembro mais o nome dele. Nossa conversa foi ótima.
D no UGC Talence.
]]>É como um congresso bem filmado de bruxos e mágicos, ou um Júri de festival de cinema onde, que Deus nos livre e guarde, o pior filme pode vir a ser o vencedor. Tive gatilho. E há as intrigas e a politicagem, e novas portas e gavetas são abertas, como num game com corredores onde Ralph Fiennes precisa pegar o cálice de ouro para aumentar a sua energia. É tudo muito bem feito, mas eu sempre achei estranha a existência desse tipo de thriller e sub-sub gênero no cinema comercial, o thriller papal (As Sandálias do Pescador, me vem à mente, Fernando Meireles fez um há pouco tempo, a lista é vasta para além de um Moretti vizinho do Vaticano). Não é difícil entender o interesse, a fumacinha será branca ou escura? Poder, Religião, Homens fazendo merda, é interessante. Eu só acho que finalmente o filme revela-se um produto comercial muito feito do seu tempo. Me lembrou aquelas divertidas adaptações de Ágatha Christie nos anos 70, muito populares. Curioso.
Academy Screening Room, HD 5.1
]]>Fui pego de surpresa por esse filme, é muito bom. Consegue dar continuidade ao fascínio dos americanos do norte com produtos industrializados ganhando vida (Toy Story, Wall-E, Chappie, Monstros S/A, Carros, a lista é longa só nos últimos 30 anos) e parece ainda atualizar isso com um olhar para a natureza que o cinema do leste europeu fazia já há 50 anos (a natureza é cruel e brutal). Algumas cenas me surpreenderam nesse sentido, mas o talento nato de Hollywood de ar um pano brilhoso e deixar tudo pra cima é ainda mais forte. O roteiro parece se comunicar não só com mães, pais e filhos, mas com tios e tias, é impressionante. Adorei o jeito das imagens animadas e a voz de Lupita N’yongo. Vi com duas crianças, as gargalhadas eram reais. E é meio que … Er… emocionante.
Academy Screening Room, HD 5.1
]]>Eu fui pego por esse filme um pouco como um gato vendo os faróis se aproximando na estrada escura, e o filme era os faróis. As imagens que revelam não apenas o cineasta Jia mas a forma como ele filmou o seu mundo por quase 30 anos, seus filmes, pedaços que eu conhecia mas de trechos que eu nunca tinha visto. O retrato mutante da China, da sua atriz e companheira Zhao Tao sendo alterados pela agem filmada e gravada em fitas e filmes de tempos diferentes e texturas diferentes. Eu me lembrei de coisas que eu já fiz, filmei e fotografei, do Retratos Fantasmas, e Caught by the Tides é uma experiência distinta, carregada de ado, presente e futuro (eu estou há um certo tempo com a sequência final na minha memória imediata recente). Um desdobramento e expansão do Mountains May Depart, outro filme que adoro.
Cinema São Luiz, Janela Internacional de Cinema do Recife.
]]>Gostei. Trabalho de foto e grading, sensacional. Atores bem bons. E me lembrou ‘Scarface’ (1983).
]]>Gostei desse milk shake de carne. Coralie Fargeat é uma evidente cineasta. Me fez pensar também como a maior parte da produção contemporânea (e a brasileira) tem sido tão anêmica. Há um veganismo dominante no nosso cinema, já há anos, muito curioso. The Substance me lembrou muito um episódio que adoro da Twilight Zone, The After Hours. E me lembrou muito MENS SANA IN CORPORE SANO, de Juliano Dornelles, curta estupendo. Adorei ver Demi Moore, e Margareth Qualley, e Dennis Quaid. Em menos de três semanas, esse é o segundo filme onde mulheres recebem ordens de homens para que sorriam, ou não sorriam. O outro filme é o ótimo Ainda Estou Aqui, de Walter Salles.
Sala Motel do Cinemark Rio Mar, onde tudo estava funcionando bem. Me espantei como a sala com ingresso tão caro estava lotada. Se as pessoas querem ver um filme, as pessoas vão ver um filme.
PS: Essa sessão teve a plateia mais dopada que eu já vi e me pergunto como teria sido ver A Substância no São Luiz. Eu não estou dizendo que as provocações do filme mereçam gritos de horror e jatos de vômito no público, mas eu fico lembrando de grandes sessões de cinema onde era parte da experiência uma reação ao filme apresentado, de suspiro a grito, gargalhadas ou alguém indo embora xingando. Ontem, naquela sala cara, uma risada básica com o vizinho de Sue e - para além disso - NADA. Achei estranho, não sei se é a programação totalmente inusitada desse thriller conceitual feminista numa sala de multiplex, ou se era a plateia que saiu pra pegar um cineminha, ou se é a atmosfera estéril de VIP lounge de cartão de crédito dessas salas. Bizarro.
]]>Há uma ironia nesses anos todos no Brasil, batendo de frente com uma extrema direita armada com religião e mentiras digitais: que um grupo pequeno e distinto de cineastas oriundas da Esquerda (mulheres, em grande parte) registraram os desdobramentos sociais e históricos que deverão sobreviver o teste do tempo como filmes prontos, arquivos guardados. Esses filmes serão a história oficial e irão durar muito mais do que o vasto arquivo solto da TV, grande mídia, sites, vídeos de WhatsApp, contas de Instagram e apps que serão aos poucos desativados on-line, vide o desastre do Xwitter atualmente no mundo inteiro, e no Brasil. O filme de Petra Costa APOCALIPSE NOS TRÓPICOS, que estreou hoje em Veneza, é uma gatilhada grande para brasileiros com algum senso de história, e também um resumo para públicos não-brasileiros que só não me constrangeu mais porque essa água está envenenada no mundo todo, especialmente nos EUA. A vergonha de como o seu país caiu num charco delirante precisa ser encarada. E devidamente arquivada.
Festival de Veneza
]]>Eu ei um bom tempo achando que não daria certo, mas num determinado momento o filme ficou doido e depois mais crazy ainda e um pouco mais crazy mais. E eu gostei de ver Burton pirando com o que sabe fazer. Não sei se isso é PG-13 ou “R” na linguagem Hollywood de tons, mas as coisas ficam bem sombrias e absurdas. A sessão na presença de Burton e equipe no Festival de Veneza (fora de competição) ou com o som bem forte. A apresentação de Mônica Bellucci no filme é muito inventiva e poética como imagem. Também me pergunto o porquê de Ms. Ortega ter achado um cantinho para ela no gênero horror gótico quando me parece uma jovem atriz tão tranquila e natural. Sua ‘latinidade’ estaria por trás disso?
Sala principal, Lido.
]]>Filme de tubarão divertido e absurdo, visto com crianças. A vingança da natureza vem completa com vibes de Grizzly Man (haha gostei). Curioso como o diretor Xavier Gens mantém-se longe de Spielberg (exceto em uma homenagem de cor amarela) e mais próximo de RENNY HARLIN (Deep Blue Sea). Os mares estão tão podres que as espécies entram em mutação e … errr um tubarão fêmea bad ass vai parar no Sena, em Paris, porquê não, e as Catacumbas viram o ninho perfeito para ela reproduzir sem macho. Eu já vi muito filme de tubarão desde Tubarão, a ladeira é íngrime para quem se aventura no gênero, a obra prima de Spielberg fudeu todo mundo, o que fica, nos melhores casos, é a diversão, melhor ainda se chegar a níveis totalmente absurdos como aqui. A prefeita se lasca tentando abafar tubarões no Sena em plena Olimpíada, com dezenas de atletas na água estilo Piranha, de Dante. Você já viu Piranha? É o Máximo. É interessante ver Paris no filme, que daria uma curiosa sessão dupla com o filme de Jean Jacques Annaud Notre Dame Brûle, duas produções sas que transformam Paris em cinema catástrofe. Não é New York, não é Los Angeles, mas Paris. Gosto de Berenice Bejo, amiga de júri em Berlim.
Netflix 4K Dolby Atmos.
]]>Fui ver Love Lies Bleeding no Cinema da Fundação do Porto Mídia, no Bairro do Recife. Eu adoro essa sala, lembro de quando ainda coordenava o Cinema da Fundação, fui visitar quando era só um espaço vago, uma possibilidade e um desejo do Porto Mídia. Que bom que o projeto foi em frente, e com o Cinema da Fundação programando. No topo do prédio com vista para a cidade e o mar. Lembra o Cinema de Arte AIP, que era o cinema chic pequeno nos anos 70, ainda alcancei criança e adolescente. Recife tem uma sorte de ter várias salas com real caráter. Logo ali embaixo é onde eu entro no Uber no final de Retratos Fantasmas, só para dar uma ideia para quem não conhece Recife.
Love Lies Bleeding me bateu bem com a atmosfera do centro da cidade. Não sei explicar, ou talvez eu consiga. Esse “amor louco” com um clima totalmente crível dos filmes feitos nos EUA no final dos anos 80, início dos 90. Me lembrei - sei nem como, mas faz sentido - de lembranças pessoais de ir ver Blood Simple, The Hitcher, de Veludo Azul, The Hot Spot, de Road House, White Sands, To Live and Die in LA, os anos VHS pra muita gente, mas que pra mim lembra a programação do Moderno, na Praça Joaquim Nabuco, e do São Luiz, filmes que eu vi no centro da cidade e que avam todos como obrigação contratual dos estúdios com os cinemas. Perdeu? Perdeu.
Cito esses filmes porque achei o Love Lies Bleeding (dirigido por Rose Glass) muito sem semelhantes hoje em dia, inclusive na soma do fantastique romântico, algo que me fez rir de prazer. Isso também me levou a duas obras de amigos do Recife de muitos anos que adoro como pessoas e como artistas: ao totalmente extraordinário filme de Juliano Dornelles ‘Mens Sana en Corpore Sano’, se você não viu esse curta metragem premiado em Locarno veja hoje. Está no Vimeo, dê search Vimeo e o filme + Dornelles. E me levou também ao trabalho da artista plástica Juliana Lapa e sua Giganta. Que maravilha.
Cinema da Fundação Porto Mídia. Amigos, o surround está alto demais! Distrai e pode estragar as caixas
]]>Me lembrou Flesh & Blood (Conquista Sangrenta) do Verhoeven. Acho engraçado como o mercado a um cheque em branco para um artista que fez um sucesso recente (Fury Road), ele aceita e vai e faz a versão pesadelo daquele sucesso, uma obra conceitual mais selvagem, mais violenta, mais sombria e sinistra, excessiva e obcecada ao ponto de dar agonia. Um lado de mim pensava, “George Miller filmando outra vez uma perseguição com caminhão tanque?”, e uma outra parte de mim pensava, “que louco, há 40 anos que eu vejo isso, é feito estar em casa”.
É isso mesmo, bote tudo pra fora, a Warner está pagando a conta desse filme de terror sobre as guerras e a violência destruidora que faz parte da existência humana. Adorei o historiador e como parece estar falando da Idade Média, mas é do futuro que ele fala. Alô Ríctus, alô Scrotus.
Estava conversando com Juliano (Dornelles) ontem: vendo o filme e alguns daqueles efeitos meio horrorosos (para os meus olhos) lembrei do Crimes of the Future, do Cronenberg. É como se esses grandes autores já na casa dos 80 abraçassem o artifício (digital) sem pudor e sem culpa, como se a manipulação da imagem fosse zero bronca, não sabemos eu e Juliano se seria algo relacionado ao desejo de tempo e de obter mais coisas. Eu posso não viajar muito na estética de vídeo de alguns dos momentos mais espetaculares do Furiosa, mas a verdade é que eu estava lá envolvido.
Engraçado que desde o 35mm, Miller sempre usou ferramentas escancaradas de artifício no Mad Max e Mad Max 2, especialmente ‘over-cranking’ a velocidade do filme a níveis que nos jogam diretamente numa ideia popular de cinema silencioso. De toda forma, eu sinto falta da poeira na lente Panavision e do sentido macabro das leis da física dos primeiros 3 filmes, em especial do Mad Max 2, a obra prima de Miller.
Essa semana, eu filmei com meu telefone o guidon da minha bicicleta enquanto pedalava num parque voltando pra casa da feira, uma imagem totalmente real, cotidiana, mas que talvez tenha uma origem no cinema de ação e marcada pela total ausência de tremedeira na câmera (sistema interno de bruxaria estabilizadora). Postei no Instagram e pelo menos 5 pessoas comentaram que parecia GTA, parecia videogame. Estou prestes a fazer um filme, sempre fico curioso em saber, que imagem será essa desse novo filme? É um desafio e tanto, e ver Furiosa foi muito ‘olhos livres’. Que bom. Grato.
Imax vrum vrum vrum Recife
]]>Fui ver essa sessão de bem boa aventura num domingo à tarde. ou trailer de filme de boneco ao som de Like a Prayer, mas logo começou a atração principal e adorei o ritmo, a pesquisa sobre o universo dos filmes Planeta dos Macacos (especialmente o primeiro) e as novas guinadas que irão manter essa série indo até não sei onde. Trabalho com cinema e mais uma vez não tenho muita ideia de como é que é feito e organizado um filme desse, a técnica, digo. Gostei. Com tudo o que tem acontecido em torno da natureza nesse planeta, tudo soa bem plausível, especialmente a imagem de uma grande cidade coberta de mato.
Cinemark XD com a mancha na tela. D
]]>Eu gosto muito de tudo, e acho engraçado todo mundo da cidadezinha ser meio blasé com a presença física e sonora de Rock Hudson, o típico jardineiro de uma dama como Jane Wyman. Mas o que eu me espanto mesmo é a fotografia de Russell Metty, uma sessão dupla com esse (cor de sombras multicoloridas) e Touch of Evil (preto e branco multi sombreado) é a bomba cine-ocular de imagens de um cinema do ado. Life’s parade at your fingertips. Douglas Sirk, iro.
Criterion Bluray. Mono.
]]>A cara do taxista ouvindo que Paul ficou sem dinheiro. A ré que Paul dá ao pular a catraca e ver o policial halterofilista. A amiga falando números aleatórios para que ele não lembre do número que tenta lembrar. Scorsese operando um holofote na boate. Marcy noiando pesado. Paul no trabalho ouvindo o colega falar dos seus planos de ter uma revista. A câmera e a montagem. A cidade personagem.
Bluray Criterion UHD 4K HDR. Mono.
]]>Seguramente o mais espetacular papel escrito para uma mulher no cinema comercial feito nos EUA. Certamente uma das melhores sessões de cinema que eu tive a sorte de ver na época do lançamento. Totalmente intenso. E revisto 38 anos depois em casa, o filme continua uma máquina impressionante.
Bluray, Dolby Stereo animal. Ainda lembro de olhar para as cortinas laterais do Cinema Veneza para saber de onde saía o som intenso de vento do planeta. Ha
]]>Essa trinca iluminada de Dirty Harry, The Beguiled (um dos meus filmes favoritos na vida) e Charley Varrick nos primeiros 5 anos da década de 70 dá a Siegel a minha iração plena. Um grande cineasta. Varrick é “Filme de Assalto a Banco”, mas tudo é muito melhor do que parece. Os desdobramentos trágicos do assalto, a quem pertencia o dinheiro, o demônio que mandaram recuperar a grana (Joe Don Baker, sempre lembro dele já mais velho num dos meus Scorseses favoritos, Cape Fear), Walter Matthau com aquele ar de pânico sob controle que só pertence a ele. O filme mais uma vez me fez pensar no porquê de os filmes americanos dos anos 70 terem envelhecido tão bem e como isso gera prazeres infindáveis. Será a música de Schifrin e as cores? Pode ser a lógica de um Estados Unidos que havia itido ser violento e desigual, e que experimentava novas ferramentas de contação de história, gerando narrativas fluentes e instigantes. Como um bom livro, eu não queria que Charley Varrick terminasse. PS: o personagem de Baker é a versão mais razoável do assassino de No Country For Old Men, do Barden.
YouTube grátis.
]]>Esse é um velho amigo, vi em 1984 na TV, só faz rejuvenescer. Não só a imagem que eu conhecia foi melhorando (TV, VHS, DVD, Bluray Criterion), mas eu amadureci em torno do filme. Os filmes são os mesmos, você é quem vai mudando. Eu adoro Dressed to Kill, a imagem, a câmera e o estilo, mas eu nunca realmente gostei da história e do sentido. E ainda assim, adorava esse filme. Dessa vez, eu achei tudo mais sofisticado, das neuras, traumas e fantasias de sonho e pesadelo (em grande parte de origem e tom masculino) transformadas em set pieces do cinema de gênero aos papéis femininos, a presença muito interessante e ligeira de um personagem trans 44 anos atrás, me soou tão moderno quanto um token para aliviar a bagaceira de um personagem importante. De Palma filma imagens dementes como ninguém mais no cinema mainstream dos EUA, e essa fotografia flu e fluente do Ralf Bode é tão extraordinária que eu deixei hoje o filme tocando sem som aqui na tela grande do escritório. E essa versão da Criterion tem uns detalhes da cena de abertura que haha eu nunca tinha visto, creio tratar-se da versão X Rated, creio que só conhecia a R Rated. Que louco rever um velho amigo e ele vir com novidade.
Criterion Bluray.
]]>John McTiernam é um grande diretor de cinema. Pega um esquemão desse (Aliens + Rambo!) e monta um filme de aventura cheio de movimento, mistério e muita língua na bochecha. Arnold é sempre figura.
Star+ 4K HDR via 35mm granulado. 5.1.
]]>Nos anos 80, eu adolescente vi muito VHS e filmes na TV inglesa (mãe bolsista estudante) e descobri o cinema da Austrália e Nova Zelândia. A proximidade cultural com o mundo britânico estreitou a relação, inclusive com uma temporada maravilha de aussies na BBC2 que me fisgou.
De Walkabout a Mad Max e Mad Max 2, Picnic at Hanging Rock, The Last Wave e Patrick, Utu, The Long Weekend, Gallipoli, My Brilliant Career, Smash Palace, The Cars That Ate Paris, Tim e The Quiet Earth, todos foram descobertas catalisadoras que me colocaram num estado de entusiasmo e sintonia. Que belo ninho de filmes. Esses neo zelandeses e australianos me chamaram a atenção por terem a escala certa, abraçavam o cinema de gênero, às vezes filmados em Panavision, inteligentes, flmes inventivos feito The Quiet Earth, de Geoff Murphy. Revi o filme depois de quase 40 anos. Confirmou lembranças que tinha e me apresentou ainda um novo filme.
Um homem acorda nu num quarto de motel e ao dar início ao seu dia nota que ele parece estar só no mundo. É um subgênero do cinema fantástico, já vimos antes, The Omega Man, 28 Days Later, The Twilight Zone…
A solidão desse homem é confirmada a cada nova esquina e quilômetro de estrada. E os meses de solidão absoluta começam a ter efeito na cabeça dele. De desejos de destruição de propriedade privada a entrar em contato com o seu lado mais feminino. Murphy filma muito bem, é o filme de um cineasta verdadeiro, e cada sequência é cheia de boas ideias.
Parece que o filme foi bem barato, mas eu não acho que isso está na tela, tem boas ideias em profusão. E ver gente quebrando coisas sempre me impressiona, principalmente se faz sentido na história.
Uma das ideias que achei moral foi o desdobramento de achar mais duas pessoas e, ao invés de começar tiro e porrada como seria o protocolo em Hollywood, esses estranhos se abraçam… outra ideia boa me lembrou a ousadia de The Host (2006) de Bong Joon Ho, que é colocar na conta dos americanos a culpa do desastre metafísico de proporções mundiais que explica o mistério. Christopher Nolan pode ter no filme uma referência para o Inception, total. Nos alimentamos de filmes.
O final FODA é uma representação rara de imagem fantástica que cheira a religião, esperança e pesadelo numa coisa só.
Bluray francês 🙌
]]>Inicialmente, eu achei uma série divertida e old fashioned para ver com crianças e falar sobre a História da 2a Guerra, a sua violência, a geografia na Europa, o amor entre dois homens, aviões, etc. A coisa complicou no último episódio, levou uma hora para desativar junto aos filhos pequenos a americanalhada, a patriotada demente, o merchandising ideológico, o excepcionalismo, o “dez pra eu e um pra tu”. Resume em 2024 a História do “quem tá pagando?”, a história de Hollywood Califórnia USA. Ou seja, nada de novo, exceto que é tempo de guerra outra vez.
Apple, 4K HDR/Dolby Atmos
]]>Those sinking feelings.
Para além do filme em si e da personagem linda de Tara, é curioso como o filme britânico naturaliza esse fenômeno britânico do turista-gafanhoto, os hooligans da farra, que acontece em países da Europa com temperaturas mais altas e PIBS menores que os da Inglaterra. De fato, não há um único personagem grego ou não-britânico que seja visto de frente ou que esteja em foco.
MUBI 4K 5.1
]]>Sensacional a sequência da Black Friday. Parece atualizar 45 anos depois o shopping de Dawn of the Dead de Romero, mas com personalidade própria. Achei que o filme estava ando em 1.5X, rápido demais tudo, a montagem, para o meu gosto, mas Roth tem uma alegria gore que é engraçada, como uma criança decapitando seus brinquedos. Gostei.
Max, HD stereo.
]]>Tinha visto pela última vez em 2011 no Cinema São Luiz, na retrospectiva completa de Kubrick do Janela. Revi hoje e lembrei muito do bolsonarismo. E do Trumpismo americano. A imagem da masculinidade construída no filme é de uma selvageria e de uma precisão que não irão envelhecer nunca. Os dois generais de Sterling Hayden e George C Scott são os grandes mascotes da destruição, da aniquilação, da desconfiança para com o outro, do amor e subserviência às máquinas, dos líquidos do corpo e do homem crente e humilde perante a Deus e finalmente minúsculo como uma pulga. Está tudo lá, da cloroquina à mamadeira de piroca às verdades do zap e o “eu não sou coveiro”. A anarquia sem lógica do 6 e do 8 de janeiro em Washington e Brasília. Esse filme não existe. Prêmio especial de whatdafuck eterno: a personagem da secretária trabalhando de biquíni no motel às 3 da manhã e reando informação sobre o destino da humanidade & o outro telefonema para Dimitri, que parece estar numa festa. E o que é aquele plano do Strangelove numa estranha sombra em ângulo mais baixo? Eu adoro quando o cinema de terror chega num filme que tinham me dito que era engraçado.
Bluray.
]]>Sobre o filme, achei muito bem feito. A sequência do rodeo na minhoca tem um aspecto espetacular de matinês do ado que é extremamente raro hoje. E me deu sensação semelhante ao que senti quando vi Duna de Lynch em 1985 em 70mm. Bonito.
SOM - Quando eu fui ver Duna 2 em Imax fiquei pensando sobre como o som tem sido mal servido nos cinemas do Brasil. Sei que isso é geral no mundo, mas minhas experiências pessoais em outros países têm sido melhores, e que isso não seja um dado científico. É só a minha versão da história.
Postei no Xwitter - “Quem foi ao cinema recentemente e sentiu que o som estava INCRÍVEL?”. Só piorou. As respostas quase que invariavelmente foram para Duna 2, quase que invariavelmente visto em salas Imax.
É como se ver filme numa “sala normal” fosse garantia de incerteza, de som baixo e apresentação fora do padrão, e ver filme em Imax seria a glória a Deus, uma agem para o Céu comprada com o . É como se o monopólio do som estivesse com Duna 2 e Imax. As outras duas menções foram para Zone of Interest, suspeito que o seu Oscar de som pode ter influenciado. Tudo mais ou menos dominado.
Alguém comentou que salas “normais” estariam sendo sabotadas com som baixo e projeção escura pelos próprios exibidores para destacar as salas de ingresso mais caro. Eu prefiro achar engraçado, minha reação toda vez que enxergo a mão boba do mercado em ação. Eu não acho que isso faz sentido, ou prefiro achar que não.
Quando a transição da projeção ótica com cópias 35mm para a projeção digital em D estava acontecendo há 15/10 anos, o próprio mercado prometeu com orgulho que as vantagens do digital seriam a porta do céu para a experiência cinematográfica. Não só a imagem seria sempre cristalina, clara, firme e constante, mas o som digital sem compressão de seis canais traria uma nova forma de ouvir o cinema.
A imagem é mesmo firme e constante, mas clara e cristalina, não na realidade de uma sala de multiplex.
De fato, do ponto de vista técnico o padrão que temos hoje em qualquer sala digital no mundo e no Brasil (5.1, som digital em cópias D) é, ou deve ser, extraordinário o suficiente para que cada sessão de Duna seja uma experiência que irá impressionar espectadores que nem entendem de som em filmes. Não precisaria ser Imax.
Não há mais o abismo entre cópias 35mm mono e cópias 70mm com seis canais de som magnético que existia décadas atrás, algo que era capaz de alterar por completo a percepção de plateias sobre um filme. Hoje, o padrão é praticamente o mesmo. Mas não é isso o que acontece e o som, de forma geral, é inconstante, toca baixo, está com defeito, estourado, manco, e isso, no esquema geral das coisas, vai se tornando “o normal”.
Com a chegada das salas “”, talvez faça sentido para o mercado deixar tudo melhor (ou o que deveria ser o padrão técnico disponível) para as salas mais caras, para as XDs, salas motel e Imax. E isso é escroto. Tem também salas construídas economizando na obra de engenharia e com mentalidade amadora. Elas precisam ar o filme com som baixo para não incomodar a sala 2, parede com parede, ali junto.
Projecionistas solitários nos seus primeiros empregos obrigados a programar e supervisionar 12 salas simultaneamente têm hoje mais o perfil de um assistente de almoxarifado do que de um verdadeiro projecionista. Uma vez em Lima, no Peru, o projecionista cuidando das seis ou oito salas onde Aquarius ava era um adolescente pra lá e pra ca de patins com um iPad na mão, longe da cabine, achei moderno.
Não há a compreensão do que significa apresentação e espetáculo, dando a mesma falta de tratamento e pensamento no volume para Farofeiros 2 e Duna, já que “o padrão de volume é o mesmo”. Não estou diminuindo ou enaltecendo esses filmes, mas são totalmente distintos como sessão de cinema e escola de som.
Como exibir Stop Making Sense do Talking Heads? É o mesmo tratamento dado a um filme mono de Cassavetes ou Joaquim Pedro de Andrade?
Eu não sei nunca o que esperar quando vou num multiplex, é feito tirar na porrinha. Já imaginou se o valor do ingresso também fosse inconstante dentro de um teto? Na porrinha você só pagou 3.25 R$ hoje, que foi o valor da qualidade técnica da sessão… Não, o ingresso é o prometido no site. Sair de casa, pagar caro e não saber se a imagem vai estar escura e o som bom, incrível ou baixo, sem a intenção de o cinema te oferecer um show, um espetáculo. A automação da exibição.
A única certeza oferecida pelo mercado é a sala Imax,ou a confiança num cinema que por questões de competência humana, oferece excelência técnica. No Recife, com o Cinema da Fundação e também o São Luiz funcionando, é possível ter qualidade de imagem e som fantásticas por um ingresso 4 vezes mais barato do que sala de multiplex. O Cinema do IMS (o de tenho algum poder de decisão), mesma coisa. Há salas no país fazendo um bom trabalho, de repertório e comerciais, elas existem.
Em tempo, o Imax tem um padrão constante monitorado à distância, no Canadá, creio que por robôs. Levei uma surra de som bem dada na sala Imax do UCi de Boa Viagem, Recife, vendo Duna 2 do Villeneuve. As caixas dos peitos vibravam e o filme grunhia feito uma besta. O que deprime é que não deveria ser apenas lá.
UMA LISTA DE SESSÕES DE CINEMA QUE EU NUNCA ESQUECI POIS O SOM ESTAVA TÃO ABSOLUTA E INCRIVELMENTE FODA. ME AJUDARAM A ENTENDER E A AMAR O CINEMA MAIS.
(Na mesma ordem de grandeza, sem preferências)
- Aliens (Cinema Veneza, 35mm Dolby Stereo, Dezembro 1986, Recife)
- Wild at Heart (Cinema da Fundação, 35mm, Dolby SR, 2005, Recife)
Retratos Fantasmas (Walter Reade, D, Outubro 2023)
- Melancholia (D, Grand Theatre Lumiere, Cannes, 2012)
- Die Hard (35mm Dolby Stereo, outubro 1988)
- The Shining (Cinema São Luiz, D, Novembro 2011)
- The Matrix (Cinema da Fundação, 35mm, Dolby SR, Dezembro 1999)
- Prince Sign O Times (Cinema do IMS, D, Janeiro 2023, SP)
- The Serpent and the Rainbow (Cinema Veneza, 35mm Dolby Stereo, 1989).
- The Host (Quinzaine des Realizateurs Cannes, 35mm Dolby Digital, 2006)
- Aquarius (Grand Theatre Lumiere, Cannes, D, 2016).
- Xanadu (Cinema Veneza, 70mm, 1981)
- U2 Rattle and Hum (Recife 2, 35mm, Dolby Stereo, 1989)
- Batman (Cinema Veneza, 35mm Dolby Stereo, outubro 1989)
- Indiana Jones and the Temple of Doom (Empire 1, 70mm, Londres, 1984)
- A Ópera do Malandro (Cinema Veneza, 35mm Dolby Stereo, Janeiro 1987)
- Raiders of the Lost Ark (Cinema São Luiz, D, 2014)
É muita história …
UCI Boa Viagem, Recife
]]>Um filme maravilhoso de Albert Brooks sobre o seu país, os Estados Unidos.
Os elementos que mantém os 90 minutos correndo bem são: a trilha de Arthur P. Rubinstein (musicou Blue Thunder, super thriller de helicóptero do John Badham). A partitura retrô me levou a Ou Vai ou Racha (Hollywood or Bust, de Tashlin). Achei profunda a utilização simbólica de palavras chave da vida nos EUA, um álbum de imagens com uma compreensão sentida do que os Estados Unidos representam: Dinheiro, meritocracia (merecer o que o esquema das coisas ensinou que iria gerar lucros justos), automóveis, a casa como espaço de vida e de consumo, as freeways e as highways. A sequência com o gerente do cassino é brilhante, uma aula sobre como funciona o dinheiro. O ator que faz o gerente é bem bom. Eu fui aos EUA pela primeira vez seis anos depois de Lost in America ter sido feito. Lembrei disso.
Bluray Criterion Collection. HD/Mono.
]]>Essa viagem meio de Ulisses de um político brasileiro, o senador Evaldo Carreira (que faleceu em 2015), pela Amazônia via Rio Solimões, é uma observação riquíssima como documento filmado e falado, rodada há 45 anos por Jorge Bodanzky e Wolf Gauer. É sobre o Brasil da política, das misturas humanas e das complexidades continentais que continuam nos separando e que o próprio país não parece entender. Por mais que eu tenha lembrado de Homero, o périplo de Evaldo também tem algo de Amaral Neto, Odorico Paraguassu e de talvez algum futuro influencer em viagem de turismo social. Evaldo é “camera ready”, dá trocados e latas de leite e vê Brasília- onde trabalha - como um “cemitério de almas”. De toda forma, ele tem a verve do homem branco brasileiro de algum poder da geração 1950s. Evaldo é letrado o suficiente para florear suas falas com proparoxítonas e marcar suas ações com os lugares-superiores-de-fala numa sociedade tão desigual. Seu privilégio é evidente. Eu não detestei o Senador Evaldo Carreira, mas fiquei fascinado por ele não só mostrar compreensão do país e da Amazônia, mas também por encarnar ali tudo o que há de bom e de ruim na ideia de poder político numa região que desafia a nação. “A Amazônia é uma Polinésia!”, “A Amazônia é fotossíntese e tem potencialidade proteica!”. A Amazônia, Evaldo fala, é “como uma mulher a ser desvirginada, deflorada, mas não estuprada”. Talvez só no Brasil algumas dessas imagens sejam possíveis, um homem a numa movimente, mão no guidon, a outra segurando um peixe. O enterro do que sobrou da cabeça de um funcionário de madeireira que teve encontro mortal com índios agressivos. O resto do corpo ficou enterrado junto do rio. O sotaque de personagens indígenas falando o português como os estrangeiros brasileiros que são, um rapaz diz “vida de pobre é assim”. Tudo fica tão colonial ao ouvi-lo. Xingar alguém de “Tikuna!”, um sotaque que não é reconhecido no nosso país, seja como estrangeiro ou como regionalismo. Ainda hoje. Aula de país.
YouTube 140p.
]]>Boa descoberta essa aventura estilo “homens vão numa missão”, a única experiência que Toshiro Mifune teve como diretor e produtor de um filme seu. Mifune, grande rosto nos filmes de Akira Kurosawa, é um ladrão de cenas, mas no seu filme, todos os companheiros têm o generoso ao quadro TohoScope. Milionário empresário junta grupo para ir nas Filipinas onde quase 20 anos antes meio milhão de japoneses morreram na 2a Guerra, e onde um carregamento de moedas de ouro foi enterrado… Eu gosto muito do peso da guerra presente no filme, sempre diminuído e ignorado pelos mais jovens como “coisa de velho sábio”. Me lembrou de forma um tanto óbvia para esse observador brasileiro o peso inesperado da guerra no Godzilla Minus One. Achei prazer ver esse filme.
Bluray francês Carlotta.
]]>Uma sessão inesperada no streaming Max do maravilhoso bate-entope hollywoodiano THE FUGITIVE, que eu lembro de ter visto com minha mãe Joselice na pré estreia pernambucana, num sábado à noite no Cinema São Luiz, Recife. Foi bom de novo, com crianças. Quero ainda fazer um filme com esse tipo de trilha, totalmente exciting e sem uma única melodia que eu seja capaz de assoviar. Harrison Ford é muito presença, num papel que James Stewart ou Cary Grant teriam feito. Gosto muito da sequência do hospital onde Dr. Kimble ajuda um menino só porque ele pode, sob o olhar de uma sensacional Julianne Moore. Hitchcock teria dirigido, mas Andrew Davis fez bem o job, a sequência do ônibus e do trem é 😍PROFISSA😍. Tommy Lee Jones, sensacional. E gosto de ver Chicago nos filmes, nunca fui lá.
Max 4K HDR/Atmos
]]>Seria uma sessão dupla engraçada com Once Upon a Time in Hollywood, de Q Tarantino, da mesma era, mesma Hollywood, intimidade grande com o universo de mansões nas colinas de Los Angeles, produtores, cineastas, sets, câmeras e luzes, estrelas e atrizes com figurinos de saias curtas, “howdy, partner?”.
Há um prazer enorme no cinema de Blake Edwards quando ele próprio tem o prazer de filmar a ação de um ser humano tendo dificuldade com o ambiente. Comédia é o ser humano em apuros, Edwards elege pelo menos dois em The Party, o ator indiano de Peter Sellers (nosso herói) e o pobre garçom que serve bebidas e também as bebe, com paixão, um alcoólatra, esse curioso personagem engraçado e trágico das grandes comédias. Desta vez, me lembrei do Luzes da Cidade, de Chaplin. Eles movimentam-se no quadro Panavision, que deleite, muitas vezes com o mínimo de ruído de sala e ambiências ou música.
Eu vi esse filme pela primeira vez na TV nos anos 80, eu realmente caí da cadeira e tive asfixia de tanto rir. Amarrar o sapato num detonador de dinamite? É nível Coiote e Papa Légua. Por causa da explosão, nosso herói é banido de Hollywood (“Isso inclui a televisão?”), seu nome anotado numa folha de papel que, na verdade, é a lista de convidados de uma festa numa mansão. É convidado por engano.
Não sei se fariam um filme com esse registro hoje, o herói indiano tem uma falta de traquejo com a vida americana e a futilidade do mundo hollywoodiano. Nunca conversei com amigos indianos sobre The Party e representação e racismo. De Chaplin a Renato Aragão, esse registro do herói “simples” que nos ganha pelo coração e graça enormes é conhecido.
De toda forma, estamos do lado dele o filme inteiro e a única pessoa da festa que ele sintoniza é a atriz sa, outra estrangeira que não consegue gostar da festa, até que a festa a a gostar deles.
O filme é pílula do tempo, tem uma elegância no filmar, é muito engraçado como observação de costumes numa sociedade racista e que o filme a detona sem clemência.
DVD/5.1
]]>Um dos filmes que me deram vontade de fazer filmes, minhas listas de Top 10 da vida geralmente vêm prontas com Mad Max 2. Gerou muita imitação descarada, jamais igualado. Tem gente que acha Fury Road melhor, tá loko… Fury Road é algo especial, mas aquele CGI todo termina me perturbando deveras. Na verdade, eu amo mesmo é a poeira na lente com réstia verdadeira de sol e a sensação acachapante de que as pessoas que fizeram isso aqui se arriscaram bastante, e eles têm o filme para provar. Eu adoro o conceito na época novo de vidas que se safam da tragédia do mundo usando pedaços de lixo da sociedade de consumo, de máscara de hóquei a ração de cachorro. A montagem me ensinou uma escola de cinema inteira. Na verdade, entre 1987 e 1989 eu usei dois vídeo cassettes para montar perseguições de Mad Max 2, Ben Hur e The Hitcher com cenas de violência e massacre de uns 30 filmes. Mas Max era a montagem guia. ✌🏼
Em VHS, TV, laserdisc, DVD, 35mm, bluray e D.
]]>Eu falei algumas vezes nos últimos anos que filmes são feitos (ou podem ser feitos) sempre duas vezes, uma vez no som e outra vez na imagem. As duas versões do mesmo filme devem ter vidas independentes, mas sabemos que estarão sendo percebidos juntos ao longo de suas histórias. Um bom filme pode ar no Cinema, na TV ou no telefone com o casamento de som e imagem, mas as duas versões podem também se desgarrar uma da outra. Seria bom eu poder flagrar um filme meu sendo apresentado numa rádio FM sem intervalo comercial (hehe), ou nas vezes que eu vejo filmes em avião sempre sem som. Ou vejo com música que eu escolho nos headphones ou com o ruído do avião. Lembrei disso novamente vendo A Zona de Interesse, de J Glazer.
Eu vi o filme em várias prestações entre novembro e fevereiro. Não é comportamento normal meu, vejo os filmes do início ao fim, de uma vez. Acho que começou num dia de cansaço, e isso repetiu-se, e depois eu tive que superar uma repulsa à ideia de voltar para o filme. Só que toda vez eu via um pouco e ficava intrigado. E eu também dormia ou desistia. Rolaram umas bads tipo “hoje não”, “quero não”. Essa semana, voltei e vi The Zone of Interest inteiro do início ao fim.
Eu programo salas de cinema não-comerciais há muitos anos. Gosto de ver como filmes são colocados em caixinhas pelo mercado e pelo próprio público, e uma parcela grande do público é dominada e manipulada pelo próprio mercado. Esse público parece ter expectativas formadas, muitas delas padronizadas. E há o público que luta contra esse mesmo domínio, contra o campo de força do comércio. Ver The Zone of Interest como filme de Oscar e ando em multiplex é muito curioso.
Alguém pode dizer, “a temática é recorrente na Academia”, entendo. As relações já estabelecidas pela própria máquina de promoção do Oscar trataram de alinhar o filme de Jonathan Glazer com A Lista de Schindler (30 anos atrás exatamente), do Spielberg, algo que o próprio Spielberg o fez nos últimos dias. Tem gente também que parece ter sido educado no tema por O Menino do Pijama Listrado, tem sido citado, previsível.
São bem diferentes esses dois filmes, o de Glazer e o de Spielberg. O de Spielberg é didático sobre o que aconteceu. A violência física é esclarecedora pelo tom e o teor cinema verdade e as melhores intenções são verbalizadas, muitas vezes às lágrimas. Há liberação de emoção conclusiva aplicada a um otimismo surpreendente, considerando o quão sombria é a percepção geral da história.
O filme de Jonathan Glazer parte da ideia de que o público sabe o que aconteceu na Europa da 2a Guerra Mundial. Você traz o conhecimento histórico e o filme amplifica esse sentimento humano e ético. O filme também parece sugerir que ter um senso ético vai ajudar o relato apresentado, e isso é muito curioso para mim, pois o mundo hoje nos apresenta muitos conflitos que sempre irão exigir um senso ético e histórico que poderá estar sendo manipulado, vide as tragédias atuais na Ucrânia e em Gaza. Escrevi sobre isso no 20 Days in Mariupol.
De toda forma, a ética humanista está no filme A Zona de Interesse em imagens de sugestão poderosa, como nos planos finais naquele prédio meio escuro, deserto, com corredores que viram cavernas de escuridão, o protagonista descendo as escadas e parando com ânsia de vômito. Que troço mais forte e sugestivo, me lembrou a traumática sequência da praia em Under the Skin…
Em algum momento, achei que estava num território que associo muito claramente ao momento do cinema moderno dos anos 90 e da década de 2000, quando Haneke e Von Trier produziram alguns dramas de teor forte e de curiosa dificuldade (para mim) de esses filmes terem uma vida longa em repetidas visitas. Lembro de quando fui rever Funny Games, como me pareceu esvaziado. A precisão de planos e de situações provocadoras. Funny Games, Dancer in the Dark, me vêm à mente, mas creio que Dogville e Melancholia superam alguma coisa desse mal estar orgulhoso. Mas estou tentando dizer que finalmente A Zona de Interesse não me pareceu ser esse tipo de filme. Acho que Glazer me lembra Roeg, um cineasta humanista com ponto de vista incomum.
Me pergunto se para uma parcela do público que tem ido ver A Zona de Interesse hoje, sem uma sinalização clara nem corrimões e interruptores, será que alguém irá dar um Google no telefone aos 30 minutos de projeção perguntando “o q aconteceu numa fábrica alemã junto de um rio nos anos 70?”.
Acho que as noções de tempo e história estão cada vez mais confusas, o Holocausto tem se distanciado da compreensão geral, a noção de guerra tem voltado como tempo presente e não como ado, e muito dessa amnésia vem como estratégia política atual.
Será que esse filme será ou está sendo acusado de ser elitista por esperar que o espectador tenha a obrigação de saber o que aconteceu na Europa nos anos 30 e 40 do século 20? Será que alguém pode achar que o filme é euro centrista e que nada disso nos diz respeito, como pessoas hoje no Brasil falam do massacre de repetição histórica que ocorre hoje na Europa Central e na Palestina? São ideias e questões que trago como observador do cinema hoje, tanto programando salas de cinema como vendo como se desenvolvem as relações das pessoas com o audiovisual com o ar do tempo, com o próprio senso de história.
Bom, eu gosto de como A Zona de Interesse foi feito e pensado, eu iro Glazer e Under the Skin é um grande filme. Acho bom esse filme existir nesses termos e ainda ter tanta força.
O personagem da esposa, vivendo uma vida sonhada de propriedade e uma vida surda para o mundo, criando seus filhos sob a catinga de carniça queimada, uma vizinhança de cinzas funerárias, gritos de morte, tiros e um ruge-ruge de terror onde lá está ela defendendo a sua vida de família, tradição e propriedade. Ave Maria, que personagem barra pesada…
Deve estar sendo divertido trabalhar em cinemas e observar as reações de públicos ali para ver um filme empacotado pelo mercado na temporada de prêmios, mas que equilibra muitos elementos que o mesmo mercado não usa o ano inteiro.
A Zona é uma aula de História com a imagem digital moderna de High Definition e cor. Lembra a noção clássica de uma “video-art” mas é evidentemente um filme de terror e um documentário, é filme europeu e é sobre o mundo que continua hoje matando de forma constante e sistemática.
Fico curioso para entender como o filme será visto com o tempo, muito embora eu tenha mais lembrado dele pelo que eu ouvi.
PS: Talvez seja uma boa descoberta conhecer Austerlitz, de Sergei Losnitza. 80 mins.
Academy Screening Room, HD/5.1
]]>Achei bonita essa mistura de gênero com naturalismo cotidiano. Um filme francês de público que se a no realismo alterado onde humanos assumem traços de outras espécies animais. É Cat People, é The Howling e American Werewolf (acenos para Rob Botin e Rick Baker), é The Fly, E.T. e a festa de São João do Sul da França, área de onde o filme toma uma textura boa e autêntica. O tom é sincero sem desejos de ser “Stranger Things”. Romain Duris é o pai que acompanha as dores de crescimento do filho adolescente (gostei muito de Paul Kircher, o menino, um ou dois os além do que está feito por Jason Patrick em The Lost Boys). Esse pai precisa lidar com sua pequena família em mutação. Tom Mercier (Synonyms, de Nadav Lapid) continua uma figura interessante em outro papel icônico. Curioso como com tantas raizes do cinema americano, esse filme só é o que é por ter sido feito longe de Hollywood e dos seus conhecidos procedimentos. Finalmente, não dá pra não pensar nas estruturas de distribuição e como elas moldam a percepção dos filmes. Esse filme de 13 milhões de € é um exercício de gênero que se fosse Hollywood e filmado em inglês, estaria em cartaz em 14 mil salas no mundo custando und 100 milhões? O Godzilla Minus One custou a mesma coisa e conseguiu esse tipo de alcance.
Beau.
Bluray UHD 4K/5.1
]]>Eu acompanhei como adolescente ligado já em música pop - e morando na Inglaterra nos anos 80 - o projeto britânico “Do They Know It’s Christmas?”, o compacto organizado por Bob Geldof com grandes nomes do pop na Grã Bretanha, composto, gravado e lançado em dezembro de 1984 para ajudar a questão da fome na África. Esse sentimento pegou forte nas ilhas da Grã Bretanha depois que a BBC fez uma série de reportagens em horário nobre sobre a fome na Etiópia, matérias de alto impacto.
O disco foi lançado com uma canção bem respeitável e tão-tão britânica. Foi direto para o número 1 das paradas (eram anunciadas toda terça-feira ao meio dia e 45 na Rádio One, uma tradição). Na escola, a galera teen sem noção cantava a letra inventada “🎶Do they know it’s dinner time, at all??🎼”. Ahem.
Foi direto também para a consciência do pop americano e eu lembro quando a gente na Inglaterra deu um “yeah yeah yeah” coletivo quando foi anunciado que os americanos também fariam um disco de auxílio emergencial para a fome na África, o USA For Africa. Que bom que fizeram, aliás. Se não me engano, artistas brasileiros também gravaram o seu próprio “We Are the World” Brasil para a seca no Nordeste? Estou viajando?
Engraçado que só agora com esse documentário Netflix que eu fiquei sabendo da história por trás de como We Are the World foi pensada e gravada, uma balada respeitável que eu nunca gostei muito, mas que é tão americana nos grandes momentos de individualismo, os solos. So American.
Eu vi esse documentário Netflix de maneira fácil fazendo exercício. É tudo meio interessante, os jogos de poder tipo - Sheila E sendo usada para atrair Prince para a gravação, que horror, Madonna ainda estourando sendo deixada de lado porque a cota de garota branca pop com cabelo colorido já fora preenchida por Cindy Lauper, seu sucesso estabelecido há algum tempo. Lionel Richie mega ego e o sol desse documentário e disco, aquela ruma de gente naquele estúdio, a viajada na maionese de Stevie Wonder propondo um refrão em suahili, revelando uma visão distraída e americana das complexidades gigantes de um continente como o africano, o caba matuto country desistindo… tudo muito bom.
Por eu ter feito um filme recente com
Imagens de arquivo, achei as imagens meio feiosas como acabamento, como se não tivesse sido feito nenhum trabalho que hoje é possível fazer para restaurar/tratar de alguma forma os arquivos. Um detalhe.
A participação de Geldof está justa, recebe o crédito e aparece na gravação em Los Angeles para dar uma instigada nos all stars. Em 1985, do lado inglês, o USA FOR ÁFRICA deu uma roubada de holofote da ideia original britânica, uma lição e tanto sobre poder e indústria. De toda forma, Do They Know It’s Christmas e We Are The World fortaleceram a ideia o suficiente para que Geldof fosse em frente e montasse o Live Aid em julho de ‘85. Um feito e tanto. Seria um próximo documentário Netflix?
Pensei também vendo esse pedaço de história da música popular como os streamers (especialmente o Netflix) talvez estejam aperfeiçoando a sua máquina para fazer esses relatos de longa metragem a partir de fórmulas calculadas, eficazes nessa faixa de produto (vi meia hora do Wham!, mesmo tipo de coisa). Será que estão usando AI? Da montagem à mixagem de som e correção de cor.
Não quero parecer desrespeitoso com os profissionais que fizeram esse e outros docs Netflix, mas eles cada vez mais me impressionam como máquinas bem feitas de entretenimento. Não são ruins, mas também não parecem ter sido feitos por alguém, exceto - imagino - na procura e seleção de vastos materiais de arquivo. Tive essa sensação no doc do Jim Carrey/Man on the Moon quando achei que os realizadores/estagiários não entenderam quem foi Milos Forman.
Esses docs parecem ainda evoluções do antigo The E! True Hollywood Story, de 20/25 anos atrás, que eram TV demais nos cortes e com ganchos sensacionalistas demais de próximos blocos, mas eu já sentia ali uns chicletes atraentes como atempo sobre a história da Cultura Popular americana (Cinema, Música, TV).
Onde estou querendo chegar? Os novos documentários Netflix como este são tão eficazes que pela força do streamer e seu alcance global, com legendas e dublagem em tantas línguas, poderão de fato serem vistos em breve como a única forma possível e aceitável de um documentário existir em tom e em forma, para centenas de milhões de pessoas de todas as culturas. Que olhar mundial estaria sendo formado?
Pensei nisso durante a sessão do filme de Mati Diop, Dahomey, no Festival de Berlim, que claramente não se encaixa nesse formato, mas que poderá ele mesmo ser adquirido pela grande máquina de streaming global, assim como foi Atlantics, primeiro filme de longa metragem de Mati em 2019. Uma massa global de imagens.
Netflix/HD/stereo.
]]>Roubos e pilhagens que haviam sido normalizados, mas agora aos poucos sendo reparados. O filme de Mati Diop olha para obras afanadas pela França nas guerras coloniais, no caso, da República do Benin, antigo Reino do Daomé. Mati tem uma facilidade natural de enxergar os fantasmas da história, de dar som e voz a um sentimento de Cultura e de desaparecimento. Isso faz desse filme o irmão sanguíneo de Atlantics, um filme diferente mas com arrepios fortes e semelhantes. Nesse novo filme, gostei mais quando a coleta direta de dados foi aos poucos abandonada e tudo virou um transe histórico espectral (eu amei aquele uso muito especial de som e voz). Dahomey nasce em Berlim, cidade propícia para pensar o tema de agora e sempre nas notícias do mundo: invasões, roubos e latrocínios (Guerras). Logo depois da sessão, ei andando na “Topologia do Terror”, na Niederkirchnerstrasse, que foi a sede da Gestapo 90 anos atrás. Ali pertinho de onde vi o filme. Senti o peso.
Berlinale Palast, D
]]>Eu fui ver esse filme de Ozu numa tarde de domingo no Cinema da Fundação, no Derby, no Recife. Entrei na sala e as cortinas pretas das janelas laterais estavam abertas e a janela da tela (a cortina) regulada para o padrão de imagem do filme (1.37 Academy). É bonito que com as janelas abertas da sala sem as cortinas, o reflexo da água do rio brilha no teto do cinema como um filme projetado, uma câmara obscura.
As janelas que dão para o Rio Capibaribe começaram a fechar com as cortinas pretas motorizadas e a sessão começou.
Pai e Filha foi projetado em cópia 16mm, que era o formato semi profissional (mas de linda imagem, se apresentado corretamente) distribuído em décadas adas pré-video digital em salas menores, centros culturais, igrejas, escolas e universidades, também em alguns cinemas distantes de centros com ingressos e bilheteria. Era uma forma alternativa de explorar os catálogos dos filmes comercialmente em lugares que não tinham equipamento profissional. Projetores 16mm e seus sistemas de som mono eram relativamente pequenos e simples. Ainda hoje, as melhores salas de repertório projetam 16mm como possibilidade extra de programação. Que foi o caso com essa sessão no Cinema da Fundação.
A cópia do Consulado Japonês estava boa, em grande parte, exceto por um trecho tenso de uns 3 minutos bem gastos e sofridos. O curioso das cópias óticas antigas é que há uma sensação de tempestade, um fenômeno climático na sessão do filme, como se o tempo fosse fechando e a coisa ficando ruim numa determinada parte da sessão, algo totalmente não relacionado à dramaticidade do filme em si. E tudo acontece na tela e no som. Algo estranhamente aleatório.
A cópia vai piorando e vai piorando ainda mais e você como espectador sabe que é uma fase e que isso vai ar, como uma chuva torrencial com vento e relâmpago, e de repente, a imagem fica limpa e o som volta a ficar claro, e tudo combina com um certo momento do filme. A fase ruim da cópia, os arranhões, picotes e pipôcos na trilha de som ficaram para trás.
Ver filme hoje no cinema - ou em casa e no telefone - tem a marca da perfeição da imagem, as únicas variáveis são o tamanho da tela e a calibragem das cores e o brilho. De toda forma, todos nós vemos a mesma cópia perfeita de uma obra, eu não estou reclamando, só observando. Numa sessão de filme projetado em película, cada sessão é um filme alterado. Ligeiramente mexido pela trajetória daquela cópia.
Eu também prestei atenção nas legendas, queimadas na cópia em laboratório, uns garranchos elegantes e sucintos que tomam um quarto da imagem e que - para mim - fazem parte desde a infância da ideia de ver filmes. Para quem se educou vendo filme dublado ou para os anglo-cinefilia, legendas são intromissões irritantes. Para mim, são Cinema.
O filme de Ozu equilibra o uso das legendas e a ausência delas. É engraçado pensar nisso. Um pai amoroso e viúvo sente que a sua filha (que o ama profundamente) precisa pensar na sua própria vida e casar, seguir seu próprio caminho, sair do ninho. É muito bom que o pretendente dela que eventualmente surge permanece ausente do filme como personagem, mas é real ao ponto de de facto mudar a vida dela.
E a atmosfera geral de como Ozu filma, dos ambientes a uma andada na rua, dos rostos de amor e decepção, de viver a vida inteligentemente.
Há pouco tempo que vi o Godzilla Minus One com um Japão destroçado do pós Guerra, me chamou a atenção que nesse filme de 1949 às únicas pistas do pós guerra são as referências à presença maciça da cultura americana integrada à vida japonesa, de o pretendente “parecer Gary Cooper, do nariz pra baixo, pelo menos!” a um vistoso anúncio da Coca Cola.
Cinema da Fundação, 16mm
]]>Eu fui na sessão oficial com a presença da equipe no Berlinale Palast, mas obviamente em tratando-se de cinema iraniano, mais uma vez aquele momento de o auditório lotado aplaudindo poltronas vazias de artistas proibidos de viajar. No dia em que saiu a notícia do assassinato de Navalny numa prisão de Putin, os dois cineastas ausentes pois tiveram seus aportes confiscados. Não tiveram o prazer de sentir aquela plateia reagindo e respirando com o filme que fizeram.
Eu gostei do filme mas também me fez pensar o quanto devo eu trazer uma carga forte de contextualização social e histórica para apreciar o relato. De toda forma, a história de uma viúva de 70 anos que enfrenta as limitações da idade e do Irã com bom humor e a voltagem adequada de energia (firme mas relativamente baixa) me ganhou, mesmo a partir do momento em que o filme dá uma guinada para a ilustração fabular extremamente política de como as pessoas vão a extremos quando são frutos de um regime extremo. A ideia de uma “Polícia da Moralidade” merece verbete no dicionário de perversões sexuais e é bom ficar atento. Com o ar dos anos, acho que o Brasil poderá sim cair num charco semelhante. Um grande abraço para Maryam Moqadam e Behtash Sanaeeha pelo filme e pela coragem.
Berlinale Palast, D
]]>Tinha visto nos anos 80, revi agora. Cru, pobre, crazy e sem noção. Pré Running Man e Squid Game e pós Logan’s Run e Punishment Park, tem o charme daquelas merdas da Cannon dos anos 80 (Missing in Action, Delta Force, etc, detestei todos na época), mas com uma demência fácil de associar aos australianos que, de alguma forma, tiveram o a lentes Panavision anamórficas. Engraçado que com os australianos vem junto um sentido notável de irresponsabilidade, estampado na cara de Olívia Hussey quando ela pula num charco australiano que EU não teria entrado. E todos aqueles explosivos no final explosivo… No final das contas, eu como programador de cinema programaria isso aqui, não só pela sessão sem noção de ação retrô que Turkey Shoot é, mas também para ar adiante a ideia para os mais jovens que é o seguinte: quer botar um doidão lobisomem aparecendo do nada para animar as coisas? Why not?
Bluray/mono.
PS: bizarro que nos anos de desenvolvimento de Bacurau, eu nunca lembrei desse filme como referência possível.
]]>Bem antes de eu ver 20 Days in Mariupol, eu recebi umas chamadas no hospício das redes sociais com algum tipo de cobrança para que eu não gostasse do filme, como se fosse alguma propaganda suja. Vendo o filme, bateu um desconforto complexo. O desconforto do que o filme registra, mas também a certeza de que esse registro pode se perder nas guerras ideológicas e de informação. Há dois genocidios conhecidos acontecendo atualmente, um na Ucrânia já há dois anos pelas mãos da Rússia, e o de Gaza, pelo estado de Israel. A Rússia de Putin não quer que a Ucrânia se distancie da ideia histórica e cultural da ex-URSS e da Mãe Rússia, numa tentativa de reatar a força um relacionamento abusivo e doente que a Ucrânia não quer mais ter na sua vida, não vai jamais voltar e quer esquecer. O país prefere se unir ao ocidente e estar o mais longe possível da vizinha sinistra, e está no direito dela, o país soberano que é, e se possível contratando a milícia de segurança da OTAN.
A Ucrânia prefere dar a vida para abraçar o ocidente (como a maior parte dos países da ex-cortina de ferro). A Rússia, portanto, promove a destruição cruel de um país em plena Europa central, com matanças sistemáticas e apagamento cultural e político através de massacres, bombardeios, demolições de universidades, museus, centros culturais, a imposição da língua russa imperial e colonial (no lugar da língua ucraniana) na frente de todo o mundo, a abdução de milhares de crianças ucranianas para o território russo, assunto de pesadelos sem fim.
Os EUA, por questões ideológicas e geo políticas, condenam essa tragédia ucraniana e atacam a Rússia com discurso e reando armas para a Ucrania. Os EUA de Biden (Democrat), pelo menos. O de Trump, quer jogar a merda no ventilador, simpático a Putin. Vendo esse documentário sobre Mariupol indicado ao Oscar, fiquei pensando como temos o a uma narrativa sobre um genocídio em curso já há dois anos, mas sobre Gaza o genocídio é questionado de forma blindada pelos meios oficiais de mídia no mundo ocidental (Brasil incluído).
Em Gaza e na Palestina, o genocídio atual surge depois dos selvagens ataques terroristas de 7 de outubro cometidos pelo Hamas contra civis (incluindo crianças) e militares de Israel. Esse ataque do Hamas foi, na época, o mais novo capítulo de uma história trágica de ocupação colonial que já dura 70 anos. A narrativa oficial tratou o ataque de outubro como uma anomalia, um ato surpreendente, uma atrocidade sem contexto histórico.
Por questões ideológicas, geopolíticas e econômicas, os EUA apoiam o governo fascista sionista de extrema direita de Israel que promove matanças sistemáticas e selvagens também com fins de apagamento cultural e político através de massacres, bombardeios, execuções, demolições de escolas, museus, universidades e a morte de quase 30 mil civis em quatro meses, a maior parte de crianças, mulheres e idosos. Que vergonha, que horror.
Por questões ideológicas, cada genocídio é condenado (Ucrânia) ou apoiado (Gaza) pelos EUA. Isso tem repercussões na forma como a opinião pública também reage a essas duas tragédias modernas, e isso sempre me espanta. Para quem vive a vida com o cinto de castidade da ideologia, as coisas devem estar bem difíceis.
De um lado, conheço gente que come propaganda russa com farinha e repete lendas urbanas patetas do Telegram de guerra de Putin. Não conhecem - pelo jeito - ninguém na Ucrânia, ou no Leste Europeu, alguém com quem poderiam trocar uma ideia sobre a realidade daquela região e o papel da Rússia ali. Para entender isso, não é preciso abraçar os EUA como exemplo de civilização. Você pode chegar a essa compreensão sem mudar em nada a sua relação com os Estados Unidos.
Para quem acha que a Ucrânia merece de alguma forma o que se a com ela nesse momento da história (?!), essa mesma pessoa pode ter seu posicionamento desativado nas redes sociais ao defender Gaza, desativado pela propaganda sionista sempre pronta para acusar “antissemitismo”. E isso envolve calar por completo o lado palestino, ou o dissenso.
Vendo o 20 Days in Mariupol, me pergunto se a barreira de versões de uma guerra não desativam o filme ainda no desejo de alguém vê-lo. Se o filme não prega para convertidos, problema extra-filme, aliás. É uma imersão de 90 minutos nos 20 dias que o vídeo-jornalista da AP (Associated Press) Mstyslav Chernov registrou na cidade portuária que foi rapidamente tomada e destruída, sua população civil massacrada. Se o Brasil fosse brutalmente invadido, eu faria o mesmo.
Para quem acompanhou a cobertura dessa guerra na mídia, os pontos mais dramáticos desse material já são conhecidos como imagem, inclusive já icônicas. A história da garota grávida acusada de ser atriz da propaganda ucraniana no hospital bombardeado é muito triste…
A diferença entre essa hora e meia e imagens cuspidas na mídia em drops é grande, dramaticamente. De um rame-rame inicial que eu senti, o filme vai conquistando um espaço de claustrofobia e terror que (isso me chama a atenção) que faz parte do cinema de gênero e de entretenimento (zumbi, pragas e invasões alienígenas apocalípticas). O filme torna-se um pesadelo perturbado factual, até por eu saber que esse recorte é 0,14% do horror dessa guerra de agressão estúpida e de roubo de terras e apagamento cultural de toda uma sociedade.
Academy Screening Room, HD 5.1
]]>Pra quem tem criança e pra quem não tem, esse filme é bem bom, roteiro de Charlie Kauffman. Afiado e bonito, tem imaginação. Uma animação americana que não é sobre coisas, produtos e objetos de plástico, mas sobre o mundo e o tempo. Final super bom. E o filme tem um bom uso de Werner Herzog. Chuva, trovão e relâmpago de novo em Dolby Atmos? Esqueça, bote a voz alemã de Deus em Dolby Atmos e tudo faz sentido.
Netflix, HD Dolby Atmos
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