bel rodrigues’s review published on Letterboxd:
uma vida lendo, estudando e pesquisando sobre os anos de chumbo desse país, uma monografia feita a respeito das lacunas de arte criadas durante a ditadura, mais de cem livros e histórias armazenadas em algum lugar de mim. nada parece ter me preparado pra assistir ainda estou aqui.
a delicadeza do filme ao abordar nossas memórias mais íntimas e que, a partir de uma ausência, tornam-se agridoces somada à necessidade que sentimos, enquanto seres humanos, de nos despedirmos de quem amamos é a força motriz do longa. o silêncio que precisamos ter para saber qual o será dado em seguida. o luto que deve ser vivido, sentido, atravessado. tudo isso foi tirado de eunice paiva e de sua família. o não saber nos maltrata, mas o não saber cercado de "ouvi falar" é ainda pior. a possibilidade começa a ser doída, nos atingindo onde nossas fraquezas habitam, mas uma mulher que precisa escolher quais filhos saberão de suas lutas não possui tempo pra se lamentar pela realidade que a rodeia. nós, espectadores, sentimos por ela. cada um na sua singularidade, claro, mas dosando a angústia que eunice não conseguiu viver — essa é a beleza do envolvimento e compreensão humana em sua forma mais pura.
o nosso país tem memória curta. ser filha de professora é saber disso desde criança. a importância de conjugar o verbo lembrar no presente é urgente. tudo que nós temos é o que já foi um dia, então lembre-se. leia, assista, debulhe-se em nossa história, mas sobretudo não se permita esquecer.
obrigada, marcelo rubens paiva, por ter escolhido lembrar. sua decisão me trouxe um novo filme favorito.